quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A contradição entre a tatuagem e o Evangelho


Antes que os defensores das peles coloridas venham cheios de pedras na mão, gostaria de salientar que esse texto não tem como objetivo levantar pontos históricos, sociais, psicológicos ou até mesmo doutrinários com relação à tatuagem. Tem como base o caráter estático da figura impressa na pele do ser humano e como essa fixidez se difere do Evangelho de Jesus.

Pois bem, dadas as explicações, coloco em questão a sinceridade de uma pessoa quando resolve aplicar uma tatuagem em sua pele. Pode ter um sentido sentimental, estético, rebelde, protestante (não, não estou falando do sentido religioso), enfim, muitas podem ser as razões para realizar tal façanha.

Mas e depois? Digo depois não no que se refere ao fim da aplicação, não no que se refere ao dia seguinte, muito menos sobre um mês depois. O que me refiro é que aquele seu pedaço de pele coberto nunca mais voltará a ser uma pele desnuda, por mais que a tatuagem perca o seu brilho, ela sempre estará lá, naquele lugar sem te dar a opção de dizer: hoje não, ou não te quero mais.

Não é como trocar de roupas ou mudar o corte de cabelo e é isso que eu mais estranho no que tange a nossa sociedade pós-moderna, inconstante, indecisa e imprecisa. Como algo tão fixo, tão sem opção foi entrar no gosto popular dos nossos tempos? Vá lá, comparar a tatuagem a um quadro, uma pintura, pode ser um exercício um tanto quanto arguto, pois em um quadro você tem a oportunidade de olhá-lo em detalhes e com calma, com reflexão. Já a tatuagem não tem esse caráter de obra de arte (a não ser que você leve alguém para a cama e fique usando o seu tempo com essa pessoa para olhar a tatuagem com olhares críticos sobre a arte, mas acho difícil isso acontecer).

Com o passar do tempo, ao se cansar da sua pele cheia de tinta, só lhe resta fazer um remendo, costurando um novo desenho em cima do velho, ou simplesmente ignorá-lo. É o custo da fixidez.

Mas e o Evangelho? O que tem a ver com tudo isso?

Esse paralelo entre a tatuagem e o Evangelho é que, quando temos um enconto com Jesus somos rasgados de cima a baixo para enxergarmos o nosso verdadeiro Eu. Como a mulher samaritana que largou o jarro de água que carregava para contar aos outros sobre o Messias, assim somos nós diante da Boa Nova. Nada do que foi está grudado em nós. A relação do Evangelho com o ser humano é de que somos novas criaturas, as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo!

E o mais interessante disso é que Jesus, aquele que respeita o nosso momento, gera novas coisas a medida em que deixamos as antigas, não de maneira impositiva, mas em liberdade. Sabe que temos um histórico de vida e que carregamos diversos "tiques" do nosso velho ser, mas que são moldados a partir do momento que deixamos o Senhor nos mudar. É como se a velha tatuagem fosse sumindo aos poucos até desaparecer, até ficar tudo "limpo".

A tatuagem pode ser encarada como a "síndrome de Gabriela" (eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim...), já o Evangelho é "ser um novo ser a cada dia". A tatuagem é dureza, o Evangelho é arrependimento, ou seja, maleabilidade. O ser que é tocado pelo Evangelho é mutante, aberto a mudanças, não-estagnado, livre de si mesmo, ou seja, não existe imobilidade.

Não estou aqui para criticar os adeptos desse tipo de arte (sim, realmente é uma arte), mas para elucidar a diferença entre a vida mórfica e a vida amórfica.

Viva a Boa Nova!