segunda-feira, 11 de novembro de 2013

SHOW BUSINESS GOSPEL




"O show business gospel cresce de forma avassaladora. Ingressos para shows (inclusive dentro das igrejas), cachês para pregar ou cantar, morangos no camarim, tapete vermelho, hospedagem em hotéis selecionados, Grammy gospel, grife de roupa... Antes que me crucifiquem, não vejo problema algum em um pregador ou cantor que foi convidado para um evento receber o custo de sua hospedagem, condução e quem sabe uma oferta voluntária por parte da igreja. Também acho justo que um presbítero que dirija bem sua comunidade receba um salário decente, pois a Palavra nos ensina dessa forma: "Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal", e "o trabalhador merece o seu salário" 1 Timóteo 5:18. E quando falamos de retiros e congressos, é sabido de todos que existem gastos com materiais, refeições, locação do espaço e etc. Por isso acho aceitável que se estipule um valor (justo).

Mas olhando para Cristo, Pedro, Paulo ou João Batista, figuras públicas da época, percebo que pregavam a Palavra por amor, pelo dom e vocação que receberam do Pai, e não como meio de alcançar fama e sucesso financeiro. Sim, Paulo muitas vezes foi sustentado por ofertas, mas jamais estipulou um  cachê ou cobrou ingressos para pregar o Evangelho. As igrejas supriam suas necessidades, mas ele nunca utilizou o nome de Cristo como ferramenta para se sustentar, alcançar a fama ou ter uma vida farta, muito pelo contrário! O dom veio primeiro e Paulo, assim como tantos outros, se utilizou desta vocação para alcançar vidas, apenas. A falta de dinheiro nunca foi empecilho para a proclamação do Reino: "Qual é, pois, a minha recompensa? Apenas esta: que, pregando o evangelho, eu o apresente gratuitamente, não usando, assim, dos meus direitos ao pregá-lo... mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre". 1 Coríntios 9:18 e 25


E o que dizer de Cristo? Apesar de ser merecedor de toda honra e glória, correu da fama como o diabo corre da cruz.

E quantos artistas seculares que caíram no anonimato não usam o nome de Deus para voltar a brilhar? Você sabia que o lugar onde mais se fazem shows atualmente são os templos? "Adoradores" e pastores enchendo seus bolsos de grana e declarando ao mundo que seu sucesso se deve a fidelidade do Senhor... Argh!


Falando em "adoradores", é bom deixar claro que a adoração relacionada ao ministério de música não possui embasamento Bíblico algum. Hoje, nas igrejas evangélicas, "levita" virou sinônimo de "integrante do ministério de louvor", mas gostaria de esclarecer que levita no Velho Testamento se referia àqueles que desempenhavam uma série de funções no antigo templo judaico, como limpar, carregar, montar, desmontar... e não apenas cantar ou tocar. Já no Novo Testamento, não existe referência alguma de levita ou ministério de louvor, pois o "templo físico" não existe mais, aliás, até existe, mas não tem mais nada a ver com a "habitação de Deus". A adoração citada no Novo Testamento não está diretamente relacionada a música, mas sim a um estilo de vida.


"Não é segredo para ninguém que o que determina o cachê de uma banda é o nível da sua fama. Quando mais famoso, mais alto é o preço. E o povo paga... O cara cobra R$ 60.000,00, mas se a igreja paga só R$ 59.000,00 ele não canta, porque quebrou o contrato"¹. Além disso, existe um público mínimo: "Eu não canto para menos de 1.000 pessoas". MERCENÁRIO! Mas quer saber? Se ainda existem músicos mercenários, cobrando cachês de R$ 60.000,00, escolhendo hotel, público, passagem em primeira classe e morangos no camarim, é porque os crentes burros pagam. Um virou produto do outro. Se merecem. Como diria Neil Barreto: "Magnata, vem Senhor Jesus!"

E aí, quando você acha que não tem como piorar, descobre que existe uma tal de "oferta mínima combinada", ou seja, um cachê disfarçado de oferta. "Muitos músicos dizem por aí que não cobram nada, mas na hora do "vamu vê", colocam lá no e-mail a tal da oferta mínima combinada. Mas como funciona isso? O pastor/músico diz: "Só posso cantar/pregar na sua igreja pela oferta mínima combinada de R$ 5.000,00, pois como recebo da minha igreja um salário de R$ 20.000,00/mês, se eu faltar um domingo para ir na sua igreja terei um desfalque..." Por isso acho imprescindível que a igreja tenha uma prestação de contas mensal transparente, assim, seus membros podem ficar cientes do que anda rolando nas transações financeiras quando se trata de pastores/músicos convidados. A comunidade deve estar ciente e de acordo com todo valor envolvido, e se não está, tem o direito de se posicionar contra"¹.


"Mas Dani, os artistas precisam de dinheiro para manter a banda e a estrutura dos shows. As gravadoras precisam receber. Eles tem contas pra pagar e família para sustentar". Bom, vamos colocar os pingos nos "is". Só podemos chamar de ministério aquilo que você reparte sem esperar nada em troca. A partir do momento que você estipula um preço, deixa de ser ministério e vira profissão. E não há nada de errado nisso, pois assim como muitos médicos, professores e psicólogos levam a mensagem do Reino através da sua profissão, um músico também tem um direito de fazê-lo. Mas perceba a grande diferença entre cobrar para exercer a profissão e cobrar para levar a mensagem do Reino. Como eu posso cobrar de uma igreja um valor para repartir com ela aquilo que tenho recebido de Deus gratuitamente? "Vocês receberam de graça; deem também de graça". Mateus 10:8. A existência ou não de ofertas, não pode nunca ser a motivação de um trabalho para o Reino. Se o seu ministério está atuando de acordo com a vontade de Deus, Ele mesmo vai sustentá-lo, através de ofertas voluntárias e outros meios, pois é o maior interessado nisso. Estipular um valor para cumprir o "Ide" é 'mercadejar' a fé. Se está estipulando valor, seja honesto e diga: "Sou músico, esta é minha profissão e optei por levar a mensagem do Reino através das minhas canções".


Outra coisa, quando um ministro de louvor estipula um cachê alto para cantar em shows ou igrejas, está fazendo acepção de pessoas, ou seja, selecionando seu público. Nas entrelinhas está dizendo: "Eu não canto em igrejas de periferia ou que tenham poucos membros". Só não enxerga quem não quer... Vejo que muitos irmãos até iniciam bem, com o coração puro, mas não vigiam e acabam caindo na maior e mais perigosa das armadilhas: "Tudo isso te darei: fama, dinheiro, sucesso, prosperidade... se você se prostrar e me adorar". Não creio que estes artistas adorem ao diabo conscientemente (quero acreditar que não), mas a partir do momento que se esquecem do mandamento ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’ e se colocam na posição de um deus, passam a sofrer a síndrome de Lúcifer, tendo seu ego acariciado, sedento de aplausos e adoração. Então um vício se instala. E o engraçado (ou triste), é que os evangélicos vivem 'metendo o pau' nos adoradores de santos, mas são tão idolatras quanto. Quantos fãs enlouquecidos não ficam horas e horas em filas para shows, vestindo camisetas de seus artistas favoritos, correndo atrás de autógrafos, enfrentando multidões para conseguir uma foto com seu ídolo gospel, pregando posters no quarto, gritando e arrancando os cabelos? Alguns artistas até sentem as dores do caminho tortuoso que estão escolhendo, mas preferem caminhar anestesiados pelo gozo dos aplausos e flashes.


"Nos dias de hoje, a celebridade vale mais que o dom que recebeu de Deus e o artista mais à sua exposição do que à sua arte"². Brilham como holofote, impedindo que a própria Luz de Cristo seja vista através de suas vidas. Pessoas totalmente dependentes de palco, microfones e flashes. E quando isso lhes for tirado (o que será inevitável), perderão sua própria identidade. Vivem de ilusão. "A fama passa, a música gospel passa e com ela sua concupiciência. Ou você coloca a Palavra de Deus no coração ou vai virar um(a) velho(a) surtado, depressivo e enfiado nas drogas. E isso vale para todo aquele que não resistiu e se entregou aos pés da fama. Que Deus tenha misericórdia de você que se transformou em camelô da fé ou cantante mercenário, e que apesar de usar o nome de Deus, de Deus não tem nada. Não podemos jamais esquecer que o nosso Deus não é aquele que dizemos: "Oh Senhor, como eu te amo! Como o Senhor é lindo! Eu te adoro...", mas é aquele a quem servimos. E não podemos servir a dois senhores. Ou servimos a Deus ou a glória dos homens. O que você deseja? A purpurina dos homens ou a glória de Deus?"³ Se optar pela glória de Deus, é momento de parar TUDO e começar do zero. Mas infelizmente, pouquíssimos terão força suficiente para lutar contra esse gigante acariciador de egos.


Este é o calcanhar de Aquiles de todo ser humano: o poder e a fama. Não foi exatamente neste ponto que a serpente tocou em Eva? O diabo sabia o que estava fazendo. "Disse a serpente à mulher: "Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal" Gênesis 3:4-5. E desejar ser tão famoso como Deus (mesmo que de forma inconsciente) gera um surto de poder, e poder é idolatria, seja qual for a sua forma. Poder é oposto de graça, pois na graça todos somos iguais, estamos no mesmo nível e não há acepção de pessoas.  A fama gera soberba, e "a soberba gera um problema oftalmológico existencial: o sujeito olha pra si mesmo e se enxerga maior que os outros e quando olha para os outros, os enxerga menor do que ele"(4)


Eu não tenho a fama que muitos artistas e líderes religiosos tem por aí (nem de perto!), mas reconheço que estou trilhando um caminho perigoso. Com o trabalho do blog 'Salve Meu Casamento', acabei me tornando uma pessoa mais conhecida (bem de leve). Não posso mentir, a sensação é ótima. E que atire a primeira pedra quem nunca sentiu o seu ego bater lá em cima ao escutar: "Nossa, que dom maravilhoso você tem! Você é uma pessoas realmente usada por Deus! Como eu te admiro! Sou sua fã!". Mas é nessa hora que grito em silêncio: "Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’". E esta é uma batalha que travo diariamente contra a minha carne: "Senhor, não permita que eu me coloque numa posição que não é minha. Toda a glória e honra seja dada a Ti". E por que todos os dias? Porque todo aquele que julga estar firme, precisa cuidar para que não caia, conforme 1 Coríntios 10:12. Se existe uma luz brilhando através da minha vida, é porque ela vem de uma fonte, e essa fonte tem nome: Jesus! É uma luta diária, pois é necessário que Ele cresça e que eu diminua.


"Quem canta sobre as coisas lá do céu não deve desviar
Quem faz da sua voz, a voz de Deus tem que sempre vigiar
Quem traz dentro de si o caminho a verdade e a vida não se vende
Abre mão de todo brilho e toda gloria deste mundo"


 https://www.youtube.com/watch?v=KL45R-VlvBU

 
Falo por amor e zelo ao Evangelho,
 
Dani Marques

¹ [bibliafreestyle.com.br] #19 - Cachê de músico cristão - Ariovaldo Junior (adaptado)
² João Alexandre
³Caio Fábio
(4)Neil Barreto

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

CASA DE DEUS, DIA DO SENHOR e OUTRAS MENTIRAS


"Bom é estar em tua casa Senhor, bom é louvar teu Santo Nome...."
"Alegrei-me quando me disseram: vamos, vamos à casa do Senhor..."
"Na casa de meu Pai há unção e há poder..."
"Venham à Casa de Deus!"
"Domingo/Sábado é dia de estar na casa de Deus"
"Domingo é o Dia do Senhor"
Já ouviu isso em algum lugar? Vamos ver o que a Bíblia diz sobre o assunto:

"Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" 1 Coríntios 3:16

"O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens." Atos 17:24

"Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós". Romanos 8:9

"Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?" 1 Coríntios 6:19

"Mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens, como diz o profeta: ‘O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés. Que espécie de casa vocês me edificarão? diz o Senhor, ou onde seria meu lugar de descanso? Não foram as minhas mãos que fizeram todas estas coisas?" Atos 7:48-50

"Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai....Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade". João 4:21-24

Acho curioso quando pastores ou padres terminam suas celebrações dizendo: "Senhor, despede-nos na sua santa paz!" Bom, seguindo essa lógica, quando vamos embora Deus fica lá na casa dele esperando ansiosamente a nossa volta, correto? E Ele deve ficar bem feliz quando os irmãos resolvem fazer reuniões durante a semana, assim não se sente tão sozinho... Querido, gostaria de te dizer que Deus habita em gente, não em prédio. Ele nos permite ter espaços que viabilizem nossos encontros, mas não mora neles. O templo não é uma construção repleta de vitrais, com altar de mármore e bancos de madeira, não! O pior, é que em cima dessa mentira, constroem-se muitas outras: "O altar é lugar sagrado!" ou "Não pode vir a igreja de bermuda ou boné, pois é lugar santo!" A Bíblia que eu leio me ensina que o santuário é meu corpo e que lugar sagrado é meu coração!
Deus havia abandonado o templo e escolhido João Batista como o seu sumo sacerdote. Ele era a Sua voz que anunciava a vinda de Cristo e agora vivia no deserto e não na "Casa de Deus". Vestia roupas feitas de pêlos de camelo, comia gafanhotos e mel do campo, ou seja, era totalmente desapegado a lugares e bens materiais, ao contrário de Anás e Caifás, que eram ricos, viviam no luxo e foram sumos sacerdotes politicamente escolhidos. O templo, a antiga Casa de Deus, não existe mais: "Ao sair Jesus do templo, disse-lhe um de seus discípulos: Mestre! Que pedras, que construções! Mas Jesus lhe disse: Vês estas grandes construções? Não ficará pedra sobre pedra, que não seja derrubada" Marcos 12.41-44; 13.1-2. E o templo foi destruído pelas tropas do General Tito Flávio, em 70 D.C., restando apenas hoje o Muro das Lamentações.

Quando estou junto com meus irmãos, ali é culto, ali é igreja, ali é momento de adoração, e isso pode acontecer na minha casa, numa praça, num restaurante e inclusive dentro de uma construção com cara de "igreja". Deus não precisa de um dia especial, de vitrais, altares ou cruz no topo do prédio para se manifestar ou ser adorado, o que Ele deseja é um coração sincero e contrito: "Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás." Salmos 51:17. Tenho uma tia muito querida que costuma cultuar à Deus admirando a bezeza da sua criação: uma bela paisagem, um céu estrelado, flores, passarinhos cantando... Nesse momento ela para, conversa com Deus, chora e o adora por tão grande amor. 
Não, não existe lugar e momento certo para cultuar a Deus. Nossa vida deve ser um culto diário! Restringir esse privilégio a um dia da semana chega a ser herético. A única recomendação que encontramos na Bíblia a respeito deste assunto é: "Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia." Hebreus 10:25. Lembrando que a palavra igreja vem do grego ekklesia, que significa "ajuntamento ou reunião de pessoas" (cristãs ou não). Dito isso, vamos pensar juntos: este versículo NÃO quer dizer que "faltar nos cultos de domingo é pecado", que "deixar de ir ao culto para ficar em casa ou passear com a família é pecado", que "você precisa estar nos cultos da manhã e da noite", que "se fizer outras coisas ou for à outros lugares no 'Dia do Senhor' receberá o castigo devido" e etc. Olhando para vida de Cristo e seus ensinamentos, não encontro nada que comprove essas afirmações.

Então, o que o autor de Hebreus quis dizer com esta recomendação? Que não podemos caminhar sozinhos. Precisamos de suporte, de sustento: "Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou" (Colossenses 3:13). Não fomos feitos para viver, mas para conviver. Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo são um relacionamento e, como fomos criados a Sua imagem e semelhança, Ele também se manifesta através de nossos relacionamentos. Congregar significa carregar a carga do outro, chorar e rir juntos, exortar em amor, dividir o pão. O que tem, divide com o que não tem: "Quem tem duas túnicas reparta-as com quem não tem nenhuma; e quem tem comida faça o mesmo" (Lucas 3:11). Comunhão é permitir que o Senhor se manifeste através dos dons que Ele mesmo nos deu para que o corpo seja edificado. Uma mão sozinha não é corpo, um pé sozinho não é corpo e, quando um dedo se machuca, todo corpo chora junto e trabalha para sua recuperação. Isso é congregar. Percebe como é muito mais profundo do que bater ponto de domingo/sábado em um local específico?
Antes de subir aos céus, Jesus nos deixou a seguinte ordenança: "Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém." Mateus 28:19-20. Uma pessoa sozinha não consegue fazer discípulos de Cristo. Esta é uma ordem para a Igreja, para o Corpo Vivo. E foi por este motivo que "ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo". Efésios 4:11-13

A partir do momento que recebemos a nossa salvação, precisamos desenvolver essa salvação, e esse processo só é possível através dos nossos relacionamentos. O discípulo em formação, precisa passar pelo evangelista, pelo apóstolo, pelo pastor, pelo profeta, pelo mestre e etc. E quando a comunidade é saudável, ela nos ajuda nessa caminhada de crescimento e aprendizado, mas sempre nos estimulando a olhar para fora e fazer diferença na história da humanidade. A comunidade que não ampara a viúva e o órfão, não visita os enfermos e presidiários, não supre a necessidade do pobre, não investe em missões e não ensina seus membros a fazerem diferença nos seus círculos de amizade, virou clube. Não vivem o que pregam. Costumo dizer que o ato de congregar, de estar junto, é como um posto de combustível. Precisamos abastecer nosso tanque para conseguir rodar na estrada da vida levando o amor de Cristo à todos aqueles que nos cercam, especialmente através do nosso testemunho de vida. E esse exercício de comunhão também pode (e deve!) acontecer com meus vizinhos, familiares, amigos do trabalho, da faculdade... Não precisa ser num local específico e em dias específicos. Não mesmo!

Mas Dani, e aqueles versículos que dizem:

Melhor é um dia nos teus átrios do que mil noutro lugar; prefiro ficar à porta da casa do meu Deus a habitar nas tendas dos ímpios.
Salmos 84:10

"Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. Êxodo 20.8"

Se alguém ainda utiliza esses versículos para justificar dias e locais específicos, é porque ainda não compreendeu o sacrifício de Cristo na Cruz. Recomendo a estes que leiam o Novo Testamento pelo menos umas dez vezes, especialmente os livros de Romanos, Gálatas e Hebreus, e ore para que o Senhor abra seu entendimento. Fazer parte de uma comunidade é algo precioso e necessário para nosso desenvolvimento espiritual, mas quando nos colocamos novamente sob jugo de escravidão, estamos negando descaradamente o sacrifício de Cristo na Cruz. No tempo da Graça ser Igreja é um estilo de vida, não um lugar, e a expressão "Dia do Senhor" perde o sentido, pois TODOS os dias são Dele e para Ele!

"Ó gálatas insensatos! Quem os enfeitiçou? Não foi diante dos seus olhos que Jesus Cristo foi exposto como crucificado? Gostaria de saber apenas uma coisa: foi pela prática da lei que vocês receberam o Espírito, ou pela fé naquilo que ouviram? Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio? Será que foi inútil sofrerem tantas coisas? Se é que foi inútil! Aquele que lhes dá o seu Espírito e opera milagres entre vocês, realiza essas coisas pela prática da lei ou pela fé com a qual receberam a palavra?" Gálatas 3:1-5

"Mas agora, conhecendo a Deus, ou melhor, sendo por ele conhecidos, como é que estão voltando àqueles mesmos princípios elementares, fracos e sem poder? Querem ser escravizados por eles outra vez? Vocês estão observando dias especiais, meses, ocasiões específicas e anos!" Gálatas 4:9-10
"Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão." Gálatas 5:1

Coração de Pedra/ João Alexandre: http://www.youtube.com/watch?v=SBM90JoSs4o


Dani Marques

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O DIABO É O PAI DO ROCK!

Já perdi as contas de quantas vezes escutei essa afirmação. Alguns justificam a 'teoria' utilizando o texto de Romanos 12.2: "Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Ok, concordo com o versículo, mas o que ele tem a ver com ritmo musical? Confesso que nunca fui chegada em rock. Sou adepta de ritmos mais tranquilos, como as canções de Jorge Camargo e Stenio Marcius, por exemplo. Elas me fazem "subir ao céu", mas nem por isso posso afirmar que são músicas mais santas que as outras. Nossas preferências musicais não podem virar regra pra vida de ninguém. Meu caçulinha, por exemplo, sempre foi chegado num barulho. Desde os dois anos demonstra preferência por ritmos mais agitados e volumes mais altos, e a pouco tempo, descobrimos que ele tem uma queda por rock. E ninguém precisou forçar a barra, é nítido que faz parte da sua personalidade.

E o que fizemos? Meu esposo, que tem um gosto musical mais variado, apresentou à ele uma banda que curtia muito na época de sua adolescência, o Resgate. Ele delirou! Até a mamãe teve que entrar na dança (e confesso que estou curtindo!). Papai no vocal, o caçula na bateria, a mais velha no teclado e a mamãe na guitarra. Zé Bruno que se cuide! As letras são profundas, repletas de verdades Bíblicas e falaram muito ao meu coração.

Pronto, aí está o "x" da questão! O que faz uma música ser 'diabólica' ou não, é sua letra, não o ritmo!

Crente tem uma mania muito ruim de dar posses ao diabo. Quem foi que disse pra você que rock é coisa do capeta? Um profeta da sua igreja? E por acaso você se preocupou em saber se esta profecia passa pelo crivo de Jesus? Os cristãos, no geral, andam com um botão de automático ligado nas costas, como verdadeiros zumbis. Se o cara lá na frente diz que rock é do demônio, a "zumbizada gospel" sai pelas ruas repetindo a frase: "Rock é do demônio, rock é do demônio, rock é do demônio..." Meu irmão, acho que chegou a hora de desligar esse botãozinho e começar a raciocinar. Quando ouvir alguma afirmação dentro da igreja, a primeira pergunta a se fazer é: "Será que isso realmente tem base Bíblica? Está de acordo com os dois principais mandamentos deixados por Cristo em Mateus 22:37-39?" E pesquise sobre o assunto!

E outra coisa, é muito mais provável um roqueiro sentir Deus falando ao seu coração através da Banda Resgate, Palavrantiga ou Oficina G3, do que ouvindo Aline Barros ou Cassiane, por exemplo. Sem contar as muitas bandas de Rock não cristãs que possuem letras profundas e inteligentes, e que transmitem muito mais do amor de Deus do que boa parte das músicas ditas cristãs. Temos que aprender a respeitar os gostos musicais dos que nos cercam, pois isso faz parte do segundo maior mandamento deixado por Cristo: "amar ao próximo como a nós mesmos"! Não podemos demonizar tudo aquilo que está fora da nossa lista de "moralmente correto".

"A cultura, em grande parte, é o presente de Deus para as nações. É o jeito de Deus de nos encher de alegria em meio a tanta dor e desespero. Deus comunica alegria, amor e esperança através da arte, da dança, da música e das diferentes culturas. O demônio não cria nada, não gera nada e não canta nada, coloque isso na sua cabeça de uma vez por todas! O diabo tenta roubar todo o tipo de manifestação de arte, tenta fazer com que todas as músicas cantem pra ele, mas ele não é dono de nada. Deus é o único criador da música, e se utiliza dessa linguagem para falar com o ser humano. Foi Ele quem nos encheu de sabedoria para criarmos acordes, ritmos, batidas e instrumentos."¹ Deus manifesta seu amor dessa forma, o único problema, é que muitos ainda não descobriram esse "segredinho".

Mas vamos supor que realmente o diabo tenha criado o rock (o que acho uma grande besteira). O que fazer? Simples, aplique a esse ritmo uma letra que fale do amor de Deus e das verdades reveladas em sua palavra. Pronto, virou uma música de Deus. Que me desculpem os religiosos, mas quanto estamos cheios de Deus, demônio nenhum tem poder de tocar ou tomar posse das coisas que oferecemos à Ele.

Agora, cá pra nós, com heresia, até hino da harpa cristã vira "filho do diabo"!

"Pois não é dos ritmos musicais que saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias, mas sim do coração!" Mateus 15:19-20 (adaptado)

Dani Marques

VOCÊ VIVE SEGUNDO OS ENSINOS DO JESUS QUE VOCÊ PREGA?

 
Jesus não tinha onde reclinar a cabeça, mas nós nos achamos no direito de "morar bem", afinal, somos filhos do Rei! "Jesus respondeu: As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça". Lucas 9:58

Jesus nos ensinou a não acumularmos riquezas nesta vida, mas nós nos achamos no direito de gastar tudo o que ele não gastou, afinal, os filhos de Deus devem prosperar! "Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam." 

Mateus 6:19-20 e "...pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos." 1 Timóteo 6:7-8

Jesus entrou em Jerusalém montado em um jumentinho, mas nós precisamos do carro do ano, afinal, somos mais do que vencedores! "Digam à cidade de Sião: ‘Eis que o seu rei vem a você, humilde e montado num jumento, num jumentinho, cria de jumenta’ ". Mateus 21:5

Grande parte dos discípulos eram homens humildes e sem instrução, e a maior parte do seu ministério Jesus esteve com os pobres e marginalizados. Mas nós atravessamos a rua quando nos deparamos com um bêbado ou uma prostituta, afinal, somos santos, separados! "Vendo a coragem de Pedro e de João, e percebendo que eram homens comuns e sem instrução, ficaram admirados e reconheceram que eles haviam estado com Jesus". Atos 4:13 e "Veio o Filho do homem comendo e bebendo, e dizem: 

‘Aí está um comilão e beberrão, amigo de publicanos e "pecadores" ’. Mas a sabedoria é comprovada pelas obras que o acompanham". Mateus 11:19

Jesus nos ensinou que a sabedoria de valor é aquela que vem de Deus, mas nós precisamos nos apegar à sabedoria deste mundo, afinal, ninguém acende uma candeia e coloca debaixo de uma vasilha. Precisamos brilhar! 

"Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o erudito? 

Onde está o questionador desta era? Acaso não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que creem por meio da loucura da pregação." 1 Coríntios 1:19-21

Jesus nos ensinou a dar valor àquilo que é eterno, mas nós precisamos investir tempo naquilo que promove prazer e sustenta o nosso ego, afinal, somos raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo escolhido de Deus! "Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer? ’ ou ‘que vamos beber? ’ ou ‘que vamos vestir? ’Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas, mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. 

Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. (Mt 6:31-33)?

A diferença entre o Jesus da Bíblia e o Jesus que vivemos é gritante. Você identifica essa contradição em alguma área da sua vida? Se sim, então é momento de parar, reavaliar e começar do zero.

O Pai nos espera de braços abertos!

Dani Marques

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O PERIGO DAS IGREJAS TRADICIONAIS

Esses dias um leitor angustiado me enviou uma mensagem: "Dani, precisamos abrir os olhos dos cristãos adormecidos dentro das igrejas tradicionais! Por favor, quando puder escreva sobre o assunto! Depois de citar diversos fatores, terminou dizendo: "A coisa é um vespeiro e um mato sem cachorro tudo junto!" Bom, pra mim é fácil falar, pois nasci e cresci dentro de uma igreja tradicional, fiz toda a minha vida lá dentro. Entendo perfeitamente a angústia deste leitor. Infelizmente esta é a realidade das grandes e históricas organizações religiosas. Existem as exceções? É claro que sim! As instituições espalhadas pelo mundo estão recheadas de pessoas que amam a Deus e desejam serví-lo com sinceridade de coração, tenho certeza disso. Mas hoje, enxergo a instituição apenas como uma ferramenta para facilitar a Igreja (corpo vivo) no seu ministério de 'ir e fazer discípulos'. A partir do momento que ela perde o foco, deixa de ser útil e passa a atrapalhar. A difícil escolha que é oferecida há séculos aos cristãos das igrejas tradicionais, não é entre Jesus ou Barrabás. Se a escolha fosse esta, seria fácil demais, pois ninguém em sã consciência se identificaria com um assassino. A escolha que nos tem sido apresentada desde sempre é: Jesus ou Caifás? E Caifás nos engana, pois se mostra um homem justo, bom e religioso. Sua influência é perigosíssima, pois nos faz acreditar que estamos vivendo a vontade de Deus, quando na verdade estamos servindo à instituição. Para Caifás, o sagrado são as estruturas e doutrinas, e infelizmente seu espírito é mantido vivo em todos os séculos nos burocratas religiosos que condenam sem exitação gente boa de Deus que infringem alguma lei religiosa ruim, mas sempre por uma boa razão: pelo bem do templo, pelo bem da igreja, pelo bem da denominação...
 

No geral, a igreja institucional perdeu o seu foco. Ao invés de proclamar Jesus, vive na ânsia de superá-lo. As tradições eclesiásticas, doutrinas e leis humanas tem usurpado o lugar de Jesus. Para a grande maioria, a palavra "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" é apenas dita de pulpito, não é vivida. A igreja atribuiu a si mesma a função de proteger as almas confiadas a ela, para que se libertem da ansiedade e do tormento da decisão pessoal e da responsabilidade: "Porque nós, que nos dispusemos a liderá-las, estamos prontos a suportar essa liberdade!" Liberdade esta que eles fogem com horror, pois para eles, ser livre é coisa do capeta! E a questão principal deixou de ser: "O que Jesus diz?" e se transformou em: "O que a igreja diz?", pois apoiar-se na letra da lei é muito mais fácil. A grande maioria dos religiosos ainda não experimentou o que Paulo chama em Romanos 8:21 de "a gloriosa liberdade dos filhos de Deus". Eles vivem na casa do medo, do temor, e esquecem-se que "no amor não existe medo, pois o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor". A sua liberdade vem pela fé em Jesus ou pela obediência à cartilha de regras e doutrinas da sua denominação? "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei pois firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão" (Gl 5:1). As expectativas colocadas em nossos ombros pela instituição, exerce uma pressão sutil, mas controladora no nosso comportamento, já a liberdade em Cristo, produz uma saudável independência da pressão do grupo. Precisamos ficar atentos!
 

Esse espírito de hipocrisia vive nos clérigos e políticos religiosos que desejam construir uma boa imagem ou carreira, mas por dentro nunca foram bons. Vivem de aparência e de muito falar. Preferem entregar o controle da suas vidas à regras e doutrinas a correr o risco de viver em sinceridade e transparência diante de Cristo e da comunidade. Eugene Kennedy escreve: "O demônio habita na ânsia de controlar em vez de libertar a alma humana". Já viu essa história antes? Pois eu já! Os cristãos tradicionais adormecidos vivem caminhando em fila indiana, atemorizados por líderes e grandes estruturas religiosas que os forçam a viver o seu modo de integridade. Tentam nos intimidar de forma muito sutil, de modo que entreguemos cegamente a nossa alma à Caifás: "Não falte à Escola Dominical!", "Venha aos cultos matutinos e vespertinos", "Não deixe de contribuir!", "Venha aos cultos de Santa Ceia!", "Sair da denominação é rebeldia!", "Não pertencer a uma igreja institucionalizada é perigoso", "Domingo é dia de ir à igreja", "Pastor precisa de diploma", "Só líderes ordenados podem ministrar a ceia, batismos e casamentos", "Contrariar a vontade da liderança é pecado!", "Não roube de Deus. Os 10% pertencem à Ele!. As ameaças disfarçadas de zelo são muitas. Mas quando me aprofundei nos Evangelhos, percebi que Caifás faria esse tipo de afirmações, Jesus não. Foi aí que decidi pular fora da fila indiana.
 

Um cristão sincero jamais colocaria o cumprimento de uma regra ou doutrina acima de uma vida. Pra mim, é absolutamente inaceitável que um pastor lute com todas as forças para retirar o automóvel que uma família recebeu como doação da comunidade num momento de necessidade, simplesmente porque foge às regras da denominação. Um verdadeiro servo de Deus jamais veria impecilho em batizar irmãos por imersão simplesmente por ter nojo da água. Alguém que diz ter o dom de pastor jamais se referiria aos irmãos das congregações mais humildes de 'mortos de fome e gentalha'. Um líder cheio de Deus jamais influenciaria um membro de menores condições financeiras a  colocar apenas R$ 10,00 no envelope do dízimo para aumentar o números de dizimistas no seu relatório da igreja. Um homem transbordando do amor de Deus jamais impediria um leigo de subir ao altar e orar pelos amigos noivos, simplesmente por ele não ter uma formação teológica. Um homem movido pelo Espírito Santo jamais convidaria irmãos mais abastados para sair de suas igrejas e passar a frequentar a dele. Um homem que busca ter o caráter de Cristo jamais trataria os membros de sua comunidade como peças de um tabuleiro, trocando-as de lugar em busca de benefício próprio. Um discípulo de Cristo jamais praticaria racismo, preconceito, mentiras, palavras de bajulação, centralização de poder, manipulações, difamações, calúnias e coisas do tipo. "Mas será que isso realmente acontece dentro das igrejas tradicionais?" Sim, estou falando do que eu vi, ouvi e vivi! E querem saber? Coisas muito piores do que esta acontecem. Já ouvi inclusive relatos de ameaças com arma de fogo dentro de gabinetes pastorais. Hoje não me escandalizo mais, apenas me entristeço. Meu processo de despertamento foi bastante lento, mas louvo a Deus porque em meio a dor, ele aconteceu.
 
E se você também deseja identificar se a liderança da sua igreja tradicional anda fazendo discípulos de Caifás, perceba como ela trata um irmão no dia-a-dia, como reage ao bêbado e à prostituta marcados pelo pecado, como responde à interrupções de pessoas que não gosta, como lida com gente humilde ou de raça diferente. Ela é humana ou vive um personagem? Abraça, chora e caminha junto? É humilde no agir e no falar? É serva ou controladora? É sincera ou vive de mentiras e manipulação? É expert em encenação? Transmite o caráter de Cristo em suas palavras e ações? Um sinal forte de proclamadores do 'evangelho de Caifás' é o muito falar.  Eles necessitam de auto-promoção: "Fomos visitar o doente", "Fomos à casa da viúva", "Ajudamos o irmão necessitado", "Fizemos uma doação", "Nosso encontro foi um sucesso!", "Chegaram novos membros", "A igreja está crescendo!", etc e etc. Mas não se engane, um discípulo de Cristo NÃO possui essa necessidade, pois o seu testemunho de vida fala mais alto. "Cuidado com os mestres da lei. Eles fazem questão de andar com roupas especiais, de receber saudações nas praças e de ocupar os lugares mais importantes nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, e, para disfarçar, fazem longas orações. Esses receberão condenação mais severa!" Marcos 12:38-40. Um líder entorpecido pela religião perde a conexão entre a pureza do coração e as obras externas de devoção. Torna-se um legalista. T.S. Eliot chama isso de "o maior pecado de todos: fazer a coisa certa pelo motivo errado". 

 

O verdadeiro seguidor de Jesus também não tem medo ou vergonha de ser quem ele é, um maltrapilho. Ele não esconde seus pecados. É interessante notar que os evangelistas Marcos, Lucas e João, chamam o autor do primeiro Evangelho de 'Levi' ou 'Mateus'. Mas em seu próprio Evangelho, ele sempre refere-se a si mesmo como "Mateus, o publicano", sem querer jamais esquecer quem foi e sempre tentando lembrar quão baixo Jesus desceu para resgatá-lo. Somos todos publicanos alcançados pela graça de Deus, assim como Mateus. Mas o religioso tomado pelo espírito de Caifás não aceita isto. Ele prefere viver sozinho com seus pecados e construir um falso 'eu', e vive tão aprofundado na própria mentira, que ele mesmo acretida que o falso 'eu' é o 'eu' verdadeiro. Dessa forma, nunca consegue exercitar a verdadeira comunhão, porque embora experimente a comunhão uns com os outros como religioso, não experimenta a comunhão sincera como pecador. O religioso esconde seu pecado de si mesmos e da comunidade, e a igreja se transforma num clube para santos, onde participam apenas aqueles que se adequam aos moldes da denominação. Vivem uma vida de comunhão de faz de conta. Mentira em cima de mentira com uma leve cobertura de religiosidade para disfarçar.
 

Os valores do mundo entraram nas igrejas tradicionais quando iniciou-se a segregação entre as pessoas: rico e pobre, branco e negro, culto e inculto, leigo e habilitado, espiritual e não espiritual. As famosas disputas santas. Um cristão nunca deveria enxergar-se como um sujeito que tem mais ou sabe mais, mas sim que foi chamado para um outro tipo de serviço. Humildade é uma das características principais de uma liderança cristã. "Eu não sou mais meu, eu não tenho mais nada e esses homens e mulheres são meus irmãos. Tudo o que eu tenho vem de Deus, por isso eu reparto. Meus dons e meus bens servem apenas para servir". Não podemos esquecer também do "clubismo" que assola a grande maioria das instituições, onde os eventos e programações são direcionadas apenas (ou especialmente) para os membros da igreja. E isso é impregnado de tal forma na mente dos fiéis, que eles realmente acreditam que estão vivendo o verdadeiro Evangelho. Mas quando conhecemos de fato o que Cristo viveu e pregou, fica fácil perceber que o caminho não é este. Um pastor que proíbe pessoas de outras denominações a participar das programações de sua igreja ou se recusa a orar por uma pessoa angustiada só porque ela frequenta outra comunidade, não está vivendo a verdadeira Igreja. Na verdade, um homem como este não é um pastor de vidas, mas um administrador de clubes. Jesus nos ensinou a 'ir' e não a ficar. Ele nos ensinou a dedicar tempo aos 'doentes', pois os sãos não precisam de médico.
 

A verdade nua e crua é que a maioria das instituições anda investindo tempo demais em eventos e programações internas, pois não querem correr o risco de ver seus peixes pulando para outro aquário. E pior do que isso, se alegram quando um membro de outra denominação passa a fazer parte da sua comunidade, como se naquele dia os céus estivessem em festa! Queridos, esta visão é turva e completamente distorcida! Uma liderança que tem o foco no Evangelho, prepara seus membros para sairem em busca dos excluídos e dos que ainda não foram alcançados pela graça, e não faz isso com a pretensão de acrescentar nomes ao rol de membros, mas sim no livro da Vida! Ela não está nem um pouco preocupada se aquele 'novo convertido' vai passar a fazer parte da sua igreja, porque tem a plena convicção que ele já é parte do Corpo Vivo, da Igreja de Cristo! O convite de Jesus é: Ide e fazei discípulos de CRISTO, não de Batistas, Metodistas, Assembleianos, Presbiterianos... Fazer um discípulo é trabalhar para que Cristo resplandeça no caráter daquela pessoa, e não fazer com que ela entre nos moldes da sua denominação. A partir do momento que uma pessoa entende o plano da salvação através do sacrifício de Cristo, ela precisa ser estimulada a caminhar com as próprias pernas, não pode viver eternamente mamando na "teta" da igreja. Ela precisa desenvolver seus dons, amadurecer e viver o "Ide" de Jesus por onde passar. E ao contrário do que dizem, isso não é privilégio de bispos, pastores ou presbíteros, mas de TODOS aqueles que creram!
 

E o que fazer quando identificamos problemas como estes dentro de nossas igrejas? Seguindo o conselho que Paulo dá a Timóteo, "não aceite acusação contra um presbítero, se não for apoiada por duas ou três testemunhas." 1 Timóteo 5:19. Quando o erro vem apenas de um dos líderes e o conselho da igreja também enxerga este erro, fica mais fácil resolver o problema e voltar ao foco. Agora, se mesmo com testemunhas e provas, a liderança local ou a cúpula da instituição persiste no erro,  aí o negócio fica feio, pois é preciso ter estômago para se submeter a uma liderança entorpecida pelo espírito de Caifás. Em casos como este, o persistir é uma decisão bastante séria e particular, que deve em primeiro lugar ser resolvida entre você e Deus. E essa decisão não é fácil, pois te faz perder amigos e fazer inimigos, inclusive dentro da própria família. Uma triste realidade. Mas como disse Susan Yates: "Caráter sem coragem não é nada. A coragem é o que nos permite agir segundo nossas convicções". Se permanecer dentro da instituição tem trazido dor e angústia à sua alma, gostaria de te confortar dizendo: Jesus nunca te pediu este sacrifício! A exortação que encontramos em Hebreus 10:25 é "não deixem de congregar", ou seja, caminhem ao lado de pessoas que compartilham dessa mesma fé, e isso pode acontecer na sua casa, numa praça, num restaurante e até mesmo dentro de uma igreja. Mas como bem sabemos, este versículo é interpretado de outra forma pelos discípulos de Caifás: "Faltar aos cultos de domingo é pecado!" Por isso meu irmão, agora que você sabe da verdade, tire esse peso das suas costas. Paulo também aconselha: "Mas agora estou lhes escrevendo que não devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem comer." 1 Cor 5:11 "Recomendo-lhes, irmãos, que tomem cuidado com aqueles que causam divisões e colocam obstáculos ao ensino que vocês têm recebido. Afastem-se deles. Pois essas pessoas não estão servindo a Cristo, nosso Senhor, mas a seus próprios apetites. Mediante palavras suaves e bajulação, enganam os corações dos ingênuos." Romanos 16:17-18
 

Muitos acreditam que contrariar uma autoridade é sinônimo de rebeldia, mas quando essa autoridade sai da vontade de Deus e toma atitudes contrárias à Palavra, nosso DEVER de cristão é ir contra e denunciar essa autoridade. Os que compactuam com essas atitudes ou permanecem indiferentes por comodidade, provavelmente não ouviram o conselho de Paulo em I Tim 5:22 "...não participe dos pecados dos outros". Denunciar a iniquidade não significa ódio e rancor. Jesus colocou o dedo na cara dos hipócritas que encontrou e fez tudo isto sempre em amor e por amor a eles.  Jesus odiava a Herodes por que o chamou de “raposa”? Jesus odiava os fariseus por que os apelidou de “sepulcros caiados”, “sepulturas invisíveis”, “comedores de camelos e catadores de mosquitos”, “copos lavados por fora e sujos por dentro”? Não, Jesus amava quando assim fazia! Sim, Ele amava com amor de verdade, não com a fantasia do amor. A fantasia do amor de faz acreditar que tudo pode ser relevado pelo bem da igreja. Uma grande cilada! Paulo denunciou algumas pessoas pelo nome, não por causa delas, mas em razão do que elas representavam como ensino do mal ao povo. Com certeza Paulo não odiava Hemineu ou Fileto, aos quais ele acusa de corromperem a fé como um câncer em estado de metástase — mas sim o fato de que o ensino deles era anti-evangelho, e, sendo eles os “apóstolos” daquela perversão do Evangelho, ele, Paulo, por amor ao Evangelho e por amor aos que estavam sendo corrompidos, os denuncia. Embora todos nós saibamos que se Hemineu e Fileto se convertessem com sinceridade, em Paulo encontrariam grande refugio de amor fraterno. Entretanto, enquanto pessoas forem os ícones de tais perversões entre nós, o nome delas deve ser denunciado sim, até que se convertam e até que sejam curados, caso algum dia necessitem e desejem!
 

"Mas como podemos desobedecer a autoridades constituídas por Deus? Isso não contraria o ensino das Escrituras em Romanos 13?" A resposta pode ser encontrada no episódio em que as autoridades judaicas proíbem os apóstolos Pedro e João de proclamarem o Evangelho e ensinarem em nome de Jesus (Atos 4:18). Observe a resposta que eles deram: “Julgai vós se é justo, diante de Deus, obedecer antes a vós do que a Deus?” (Atos 4:19). Devemos obedecer às autoridades, desde que suas ordens e leis não conflitem com a vontade de Deus revelada nas Escrituras. Não confundam submissão com subserviência! É dever cristão insurgir-se contra qualquer autoridade que não esteja cumprindo seu dever de promover o bem e punir a injustiça, atribuições que lhe são requeridas na mesma passagem em que somos ordenados a submeter-nos a elas (Romanos 13). Temos o dever de rebelar-nos contra leis injustas, que favorecem a uns à custas de outros.
 

"Mas Dani, como uma instituição (ou pessoa) que prega a Cristo pode ser capaz de praticar tais atos?" Uma árvore se reconhece pelos frutos. Veja o que Jesus disse: "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade." Mateus 7:15-23. Pregar a Cristo não significa estar cheio de Cristo. Esteja atento!
 

E pra terminar, deixo com vocês um resumo dos "10 pecados da instituição" que ouvi do Ed René. Sugiro que faça uma cópia e deixe afixado lá no mural da sua igreja! ;)
 

1 - Não enclausure Deus nas paredes da sua instituição. "Nós os Batistas, nós os Metodistas, nós os Presbiterianos é que estamos certos!" E isso gera a famosa "síndrome do vazio". Por exemplo, um batista conhece uma cidade pequena ou um bairro que possui uma Assembleia, uma Presbiteriana e uma Metodista, aí ele sente um "vazio Batista" e decide fundar uma igreja Batista, ao invés de ajudar e se unir às comunidades já existentes. "Ah, mas o culto só é legítimo se obedece a minha liturgia, se a teologia é de acordo com a minha declaração doutrinária..." Queridos, 'prestenção': Isso foge à lógica do Reino de Deus! Não tem fundamento bíblico algum!
 

2 - Não limite as manifestação do Reino de Deus aos horizontes da sua instituição, pois ele é muito maior que elas. Os pastores costumam fazer uma pressão santa em seus membros: "Ah, você precisa começar a abrir mão de algumas coisas e se dedicar mais à igreja! Precisamos de pessoas com tempo para liderar células, para cantar no coro, para organizar o retiro de casais... Precisamos de pessoas que trabalhem pra Deus!" Meu irmão, a enfermeira que cuida do doente, a mãe que educa seus filhos e o pedreiro que constrói uma casa, também estão trabalhando para o Reino quando levam o amor de Cristo através de suas palavras e ações. O Reino de Deus é infinitamente maior que a sua instituição.
 

3 - Não condicione a relação com Deus com a relação institucional. "Ah! Se alguém não é Prebisteriano ainda não é irmão, não é convertido. Ele ainda não foi batizado nos moldes da minha religião, não fez classe de novos membros, profissão de fé..." Querido, acredite ou não, Deus tem muitos a quem a igreja não tem e a igreja tem muitos a quem Deus não tem. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!
 

4 - Não exija do povo de Deus sacrifícios em nome da instituição. "Vamos reformar o templo. Precisamos nos sacrificar por Jesus!" O cara fala isso e ainda tem coragem de usar o texto de Neemias reconstruindo os muros de Jerusalém para justificar. Meu irmão, não faça isso. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O templo é uma coisa e Jesus é outra bem diferente.
 

5 - Não restrinja a atuação ou vocação ministerial à sua instituição. Os dons e ministérios foram distribuidos para a edificação do corpo, e como falamos, o Reino não se restringe à sua comunidade. Se um líder religioso não permite que os membros da sua igreja contribuam financeiramente ou através dos seus dons e serviços em outras denominações ou organizações (cristãs ou não), é porque está com seu horizonte institucional restrito (pra não dizer totalmente bloqueado). Pense nisso: Por que sua igreja precisa fundar uma creche se no bairro já existe uma outra precisando de ajuda? A lógica do Reino nos levaria a colaborar com os serviços da creche já existente, sendo ela da mesma denominação ou não.
 

6 - Não confunda instituição com corpo vivo de Cristo. Não confunda o livro de rol de membros da sua igreja com o livro da Vida. Não confunda instituição religiosa com comunidade cristã. Uma coisa é bem diferente da outra. A comunidade tem a Bíblia Sagrada como referência, a instituição tem o estatuto, o regimento, os cânones; A comunidade é teocentrica, a instituição é democrática; No Corpo Vivo as decisões são tomadas em oração, esperando sempre a direção de Deus. Numa instituição as decisões são tomadas através de assembleias e votos;  O Corpo Vivo não encontra barreiras, a instituição encontra, e muitas!
 

7 - Não pretenda gerir o corpo vivo de Cristo com a lógica da gestão institucional. "Pastor, eu tenho que dar o dízimo de 10% na igreja local? E se eu atrasar, preciso atualizar no próximo mês?" Não, não e não! A reposta de um pastor focado no Evangelho seria: "Primeiro, não precisa ser 10%. Segundo, não precisa ser aqui na comunidade local, pode ser aonde seu coração mandar, e terceiro, você não precisa atualizar os atrasados porque não estamos tratando da mensalidade de um clube, ok? Deus não quer seus 10%, o que Ele realmente deseja é um coração generoso. E quando você tiver um coração generoso, vai doar bem mais do que 10%." Mas e o sustento da igreja local, como fica? A resposta é simples: Deus não é homem, e a lógica do Reino é bem diferente da lógica humana.
 

8 - Não priorize as relações funcionais em detrimento das relações 
pessoais. Um pastor não pode nunca tratar suas ovelhas como mão de obra para o crescimento do seu ministério. Elas devem ser tratadas como irmãos e não como funcionários.
 

9 - Não pretenta perenizar a sua instituição. As instituições tem ciclos vitais, não são eternas. E não tem problema nenhum se ela morrer, fechar ou se revitalizar... Como o foco é a Igreja de Cristo, podemos ficar tranquilos, pois mesmo que a instituição acabe, a Igreja continua viva!
 

10 - Jamais coloque o corpo vivo de Cristo a serviço da instituição. A instituição é que deve estar a serviço do Corpo de Cristo. O pensamento da comunidade deve ser: "O que Deus está nos chamando pra fazer neste bairro, nesta cidade? Como a instituição pode nos auxiliar neste serviço de proclamação do Reino?" Percebe a diferença? Se ela não está ajudando, é porque chegou a hora de acabar com tudo, repensar e começar do zero!
 

A graça não pode ser confinada ou escravizada pela religião. Deus é muito maior que tudo isso e o Espírito Santo é um vento que sopra pra onde quer. Que o Senhor desperte os adormecidos, e que os despertos, despertem outros. Essa é minha oração.



Dani Marques
 

 *Diversos trechos desse artigo foram retirados de vídeos ou textos de Ed René, Ariovaldo Ramos. Caio Fábio e Brannan Mannig.










quarta-feira, 14 de agosto de 2013

TEOLOGIA DA PROSPERIDADE: QUANTO CUSTA A SUA FÉ?

Jesus pregou e viveu o amor, mansidão e domínio próprio, mas havia algo que o tirava do sério: fazer comércio com as coisas de Deus! Veja: "No pátio do templo viu alguns vendendo bois, ovelhas e pombas, e outros assentados diante de mesas, trocando dinheiro. Então ele fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas e virou as suas mesas. Aos que vendiam pombas disse: "Tirem estas coisas daqui! Parem de fazer da casa de meu Pai um mercado!" João 2:14-16

Durante as minhas férias estava lendo, por curiosidade, um jornalzinho dessas igrejas defensoras da teologia da prosperidade. Uma daquelas que pagam milhões por um espaço no horário nobre do canal aberto, sabe? Cheguei a ler uns cinco depoimentos dos fieis, foi o que consegui. Não suportei continuar. Senti ansia de vômito e a sensação que meus órgãos estavam derretendo. Os testemunhos eram bem parecidos com: "Depois que passei a frequentar assiduamente os cultos da igreja "x", minha vida mudou! Hoje tenho minha casa própria!", "Comecei a pagar o carnê mensamente e o Senhor me abençoou. Consegui comprar um carro 0Km!" ou "Participei da campanha do lenço ungido, dei tantas voltas na fogueira Santa e minha vida se transformou. Hoje tenho um emprego e meu marido foi promovido na empresa!". Fiquei me perguntando: "Meu Deus, que Bíblia é essa que essa gente lê (se é que lêem)? Ou melhor, que Jesus é esse que eles pregam?" Ok, se alguém se agrada desse tipo de doutrina, eu respeito. Mas colocar o nome de Jesus no meio, aí não dá! Por que não dizer que estão falando em nome de qualquer outro Deus? Sei lá, o deus Mamom, por exemplo? O Deus que eu conheço, aquele revelado em Jesus, faria um chicote de cordas e sairia chicoteando esse bando de safados disfarçados de pastores, missionários e apóstolos. Gostaria de dizer à você, que frequenta uma dessas igrejas da teologia "toma lá, dá cá", é hora de acordar pra vida meu filho! Tu tá sendo enganado rapaz!!!

O evangelho não está sendo proclamado, compreendido e vivido por essas igrejas. Vocês estão vivendo na casa do temor e não do amor, como diria o bom e velho Brennan Manning. Embora a Bíblia seja claríssima quando diz que foi de Deus a iniciativa da obra da salvação, o que está sendo pregado por esses bandidos é que nossa espiritualidade deve começar no EU, e não em Deus. É o famoso "Deus ama os bons meninos". A grande ênfase é no que 'eu estou fazendo' em vez de no que 'Deus está fazendo', aliás, no que ele já fez! O pior, é que mais cedo ou mais tarde esse povo todo que está sendo enganado será confrontado com a dolorosa verdade da sua insuficiência. Aí vem a decepção, e é neste momento que muitos abandonam a fé. Queridos, somos incapazes de acrescentar uma polegada sequer na nossa espiritualidade através do bom comportamento. A nossa luta pelos méritos de estrelas douradas, a nossa afobação por consertar a nós mesmos, é uma negação aberta ao evangelho da graça!

Fico me perguntando: que Boa Nova é essa que vocês vivem? Se Deus é um juiz que retribui os bons e pune os desobedientes, isso não é Boa Nova coisíssima nenhuma, é uma Péssima Antiga! Será que a morte na Cruz veio nos revelar essa terrível mensagem? De que Deus ama os bons meninos e pune os maus? A justiça de Deus, que tanto se fala dentros das igrejas, é que Ele nos tornou justos através do perdão de cada um dos nossos pecados, a famosa justificação pela graça mediante a fé! Não é por qualquer mérito ou atitude nossa que tivemos nosso relacionamento restaurado com Deus, mas unicamente pelo seu grande amor e bondade. A decisão foi Dele! Essa é a Boa Nova! Mas isso é incrível e bom de mais para aceitar não é mesmo? É mais fácil pagar o carne do Gideão (concorrendo a prêmio pela loteria Federal), vender o carro e entregar o dinheiro na igreja, virar patrocinador com direito a brinde mensal, deixar a bolsa no altar, frequentar todas as campanhas de prosperidade, comprar o vaso de alabastro por R$ 200,00, dar sete voltas na Fogueira Santa de Israel... Em outras palavras, é mais fácil se sacrificar e negar o sacrifício que já foi feito na Cruz, não é mesmo?

Pensamos que Deus abençoa somente se formos fieis no que a igreja impõe, mas Jesus nunca afirmou que o Reino dos Céus é uma subdivisão para os certinhos, frequentadores de igreja e pagadores do dízimo e carnês. A igreja verdadeira não é um museu para santos, mas um hospital para doentes! A Boa Nova significa que podemos parar de mentir para nós mesmos. É ela que nos salva da necessidade do auto-engano, de que eu preciso fazer algo para receber o amor de Deus ou ser abençoado. Um santo não é alguém bom, mas alguém que experimenta a bondade de Deus, já diria Thomas Merton. A salvação nos foi dada gratuitamente, de presente! Não é recompensa da nossa fidelidade. E os televangelistas, superastros carismáticos e líderes religiosos das igrejas do 'toma lá, da cá' não querem que você saiba disso, pois a Boa Nova de Cristo desfaz a dependência na igreja e a coloca em Jesus, e com isso, eles perdem. Perdem fama, poder e dinheiro.

A mensagem de Jesus grita que somos todos mendigos igualmente privilegiados. Não há coisa alguma que qualquer um de nós pode fazer para herdar o Reino, apenas é fé pura de uma criancinha. "Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus" Efésios 2:8. "Vocês, que procuram ser justificados pela lei, separaram-se de Cristo; caíram da graça" Gálatas 5:4. Meus amigos, se isso não lhes parece Boa Nova, então nunca experimentaram o evangelho da graça. Você já é aceito, simplesmente aceite este fato. O verdadeiro cristão rejeita por completo a ideia de que Deus pega as pessoas de surpresa ao menor sinal de fraqueza ou falha no dízimo. Quando enxergamos Deus dessa forma distorcida, sentímo-nos impelidos a nos envolver em alguma espécie de trabalho para aplacá-lo. E quando pessoas esmagadas por esse conceito falham - o que inevitavelmente acontece - no geral ficam a espera de uma punição. Por isso perseveram em práticas religiosas ao mesmo tempo em que lutam para manter uma imagem oca de um eu perfeito.

Em essência, há uma única coisa que Deus pede de nós: aceite o que eu já fiz por você! Temos paz quando o Deus da graça é tudo o que buscamos. Se o foco muda, nos perdemos. Todo o restante, mais conhecido como boas obras, virá como consequência da fé genuína. O Reino de Deus pertence a pessoas que não estão fazendo gênero ou tentando impressionar, esperando estrelas na testa pelo seu bom comportamento. "Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele" Marcos 10:15. A criança é símbolo dos excluídos da época, dos marginalizados, daqueles que nem ao menos eram contados, e que com frequência eram chamados por Jesus de "últimos" ou "pequeninos". O reino de Deus é daqueles que nunca fizeram nada para merecê-lo, apenas aceitaram-no através fé pura, como um presente! A graça de Deus recai sobre essas pessoas porque são criaturas insignificantes, não por causa de suas qualidades. "Vim chamar os pecadores, não justos!"

A salvação que Jesus trouxe não pode ser conquistada com esforço. Não existe a possibilidade de barganha com Deus: "Eu fiz isso e agora você me faz aquilo". Jesus destroi por completo a noção de que nossas obras merecem qualquer pagamento em troca. Os cristãos estão tentando consquistar o favor de Deus mergulhando no maior número de atividades espirituais, multiplicando altares e sacrifícios. Sem contar os milhares de "ungidos" insensatos que cometem a loucura de determinar que Deus faça alguma coisa e ainda esperar que ele obedeça. Isso é o cúmulo da ignorância! Deus não é uma marionete movida à jejuns, campanhas, dízimos e ofertas. Acordem!

Talvez a grande dicotomia dentro da comunidade cristã da atualidade não seja entre conservadores e liberais, entre criacionistas ou evolucionistas, mas entre os despertos e os adormecidos. O cristão desperto sabe que é maltrapilho e que não há nada que possa fazer para alcançar o amor de Deus, pois a decisão de amar já foi tomada por Deus. "Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados." 1 João 4:10. Se você aprendeu a pensar no Pai como juiz, disciplinador, espião ou como aquele que castiga, conheceu o Deus errado. "No amor não há medo; pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor." Deus não é nosso inimigo, não está decidido a nos testar, tentar ou provocar. Ele não dá preferência e não promove o sofrimento ou a dor. Não!

O evangelho declara muito claramente que não importa quão dedicados e devotos sejamos, não somos capazes de salvar a nós mesmos. O que Jesus fez foi suficiente. Você só precisa crer. A medida que nos mantemos santos pelos nossos próprios esforços, deixamos que prostitutas e ladrões entrem primeiro no reino, porque eles já sabem que não podem salvar a si mesmos. Quando reconhecemos que somos todos miseráveis à porta da misericórdia de Deus, aí então Ele pode fazer  algo belo de nós. Como é dificíl ser honesto e renunciar à pretensão de que minhas orações, meu discernimento espiritual, meus dízimos e ofertas, meu sucesso ministerial fizeram-me alcançar o favor de Deus. Isso é balela! Sou amável simplesmente porque Deus me ama, simples assim. O amor humano será sempre uma sombra débil do amor de Deus. A lógica humana está baseada na experiência humana, e Deus não se encaixa nesse modelo. Ele olha nos nossos olhos e diz: "Eu não quero seu dinheiro e tampouco suas boas obras. Eu quero seu coração!"

A confiança que depende da resposta que obtém de Deus não é de fato confiança. As igrejas da teologia da prosperidade ensinam seus disípulos que é necessários provas e respostas para saber se o "aluno de Deus" está se saindo bem. E quando essas repostas não chegam, o discípulo fica frustrado e começa a desconfiar que seu relacionamento com Jesus esfriou ou nunca existiu. Mas eu quero dizer pra você hoje: "Mais bem-aventurados os que não viram e creram!" Jo 20:29. Oro a Deus para que ao ler essa mensagem, escamas caiam dos seus olhos e seu entendimento seja aberto. Ajude a divulgar esse texto para o máximo de pessoas que puder. Se for possível, imprima cópias e distribua ao final dos cultos dessas igrejas do deus Mamom. Se ao menos uma pessoa entender a graça, terá valido a pena!

Dani Marques

Texto baseado no livro "O Evangelho Maltrapilho - de Brennan Menning". Muitos trechos desse artigo foram retirados deste livro.