segunda-feira, 11 de novembro de 2013

SHOW BUSINESS GOSPEL




"O show business gospel cresce de forma avassaladora. Ingressos para shows (inclusive dentro das igrejas), cachês para pregar ou cantar, morangos no camarim, tapete vermelho, hospedagem em hotéis selecionados, Grammy gospel, grife de roupa... Antes que me crucifiquem, não vejo problema algum em um pregador ou cantor que foi convidado para um evento receber o custo de sua hospedagem, condução e quem sabe uma oferta voluntária por parte da igreja. Também acho justo que um presbítero que dirija bem sua comunidade receba um salário decente, pois a Palavra nos ensina dessa forma: "Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal", e "o trabalhador merece o seu salário" 1 Timóteo 5:18. E quando falamos de retiros e congressos, é sabido de todos que existem gastos com materiais, refeições, locação do espaço e etc. Por isso acho aceitável que se estipule um valor (justo).

Mas olhando para Cristo, Pedro, Paulo ou João Batista, figuras públicas da época, percebo que pregavam a Palavra por amor, pelo dom e vocação que receberam do Pai, e não como meio de alcançar fama e sucesso financeiro. Sim, Paulo muitas vezes foi sustentado por ofertas, mas jamais estipulou um  cachê ou cobrou ingressos para pregar o Evangelho. As igrejas supriam suas necessidades, mas ele nunca utilizou o nome de Cristo como ferramenta para se sustentar, alcançar a fama ou ter uma vida farta, muito pelo contrário! O dom veio primeiro e Paulo, assim como tantos outros, se utilizou desta vocação para alcançar vidas, apenas. A falta de dinheiro nunca foi empecilho para a proclamação do Reino: "Qual é, pois, a minha recompensa? Apenas esta: que, pregando o evangelho, eu o apresente gratuitamente, não usando, assim, dos meus direitos ao pregá-lo... mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre". 1 Coríntios 9:18 e 25


E o que dizer de Cristo? Apesar de ser merecedor de toda honra e glória, correu da fama como o diabo corre da cruz.

E quantos artistas seculares que caíram no anonimato não usam o nome de Deus para voltar a brilhar? Você sabia que o lugar onde mais se fazem shows atualmente são os templos? "Adoradores" e pastores enchendo seus bolsos de grana e declarando ao mundo que seu sucesso se deve a fidelidade do Senhor... Argh!


Falando em "adoradores", é bom deixar claro que a adoração relacionada ao ministério de música não possui embasamento Bíblico algum. Hoje, nas igrejas evangélicas, "levita" virou sinônimo de "integrante do ministério de louvor", mas gostaria de esclarecer que levita no Velho Testamento se referia àqueles que desempenhavam uma série de funções no antigo templo judaico, como limpar, carregar, montar, desmontar... e não apenas cantar ou tocar. Já no Novo Testamento, não existe referência alguma de levita ou ministério de louvor, pois o "templo físico" não existe mais, aliás, até existe, mas não tem mais nada a ver com a "habitação de Deus". A adoração citada no Novo Testamento não está diretamente relacionada a música, mas sim a um estilo de vida.


"Não é segredo para ninguém que o que determina o cachê de uma banda é o nível da sua fama. Quando mais famoso, mais alto é o preço. E o povo paga... O cara cobra R$ 60.000,00, mas se a igreja paga só R$ 59.000,00 ele não canta, porque quebrou o contrato"¹. Além disso, existe um público mínimo: "Eu não canto para menos de 1.000 pessoas". MERCENÁRIO! Mas quer saber? Se ainda existem músicos mercenários, cobrando cachês de R$ 60.000,00, escolhendo hotel, público, passagem em primeira classe e morangos no camarim, é porque os crentes burros pagam. Um virou produto do outro. Se merecem. Como diria Neil Barreto: "Magnata, vem Senhor Jesus!"

E aí, quando você acha que não tem como piorar, descobre que existe uma tal de "oferta mínima combinada", ou seja, um cachê disfarçado de oferta. "Muitos músicos dizem por aí que não cobram nada, mas na hora do "vamu vê", colocam lá no e-mail a tal da oferta mínima combinada. Mas como funciona isso? O pastor/músico diz: "Só posso cantar/pregar na sua igreja pela oferta mínima combinada de R$ 5.000,00, pois como recebo da minha igreja um salário de R$ 20.000,00/mês, se eu faltar um domingo para ir na sua igreja terei um desfalque..." Por isso acho imprescindível que a igreja tenha uma prestação de contas mensal transparente, assim, seus membros podem ficar cientes do que anda rolando nas transações financeiras quando se trata de pastores/músicos convidados. A comunidade deve estar ciente e de acordo com todo valor envolvido, e se não está, tem o direito de se posicionar contra"¹.


"Mas Dani, os artistas precisam de dinheiro para manter a banda e a estrutura dos shows. As gravadoras precisam receber. Eles tem contas pra pagar e família para sustentar". Bom, vamos colocar os pingos nos "is". Só podemos chamar de ministério aquilo que você reparte sem esperar nada em troca. A partir do momento que você estipula um preço, deixa de ser ministério e vira profissão. E não há nada de errado nisso, pois assim como muitos médicos, professores e psicólogos levam a mensagem do Reino através da sua profissão, um músico também tem um direito de fazê-lo. Mas perceba a grande diferença entre cobrar para exercer a profissão e cobrar para levar a mensagem do Reino. Como eu posso cobrar de uma igreja um valor para repartir com ela aquilo que tenho recebido de Deus gratuitamente? "Vocês receberam de graça; deem também de graça". Mateus 10:8. A existência ou não de ofertas, não pode nunca ser a motivação de um trabalho para o Reino. Se o seu ministério está atuando de acordo com a vontade de Deus, Ele mesmo vai sustentá-lo, através de ofertas voluntárias e outros meios, pois é o maior interessado nisso. Estipular um valor para cumprir o "Ide" é 'mercadejar' a fé. Se está estipulando valor, seja honesto e diga: "Sou músico, esta é minha profissão e optei por levar a mensagem do Reino através das minhas canções".


Outra coisa, quando um ministro de louvor estipula um cachê alto para cantar em shows ou igrejas, está fazendo acepção de pessoas, ou seja, selecionando seu público. Nas entrelinhas está dizendo: "Eu não canto em igrejas de periferia ou que tenham poucos membros". Só não enxerga quem não quer... Vejo que muitos irmãos até iniciam bem, com o coração puro, mas não vigiam e acabam caindo na maior e mais perigosa das armadilhas: "Tudo isso te darei: fama, dinheiro, sucesso, prosperidade... se você se prostrar e me adorar". Não creio que estes artistas adorem ao diabo conscientemente (quero acreditar que não), mas a partir do momento que se esquecem do mandamento ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’ e se colocam na posição de um deus, passam a sofrer a síndrome de Lúcifer, tendo seu ego acariciado, sedento de aplausos e adoração. Então um vício se instala. E o engraçado (ou triste), é que os evangélicos vivem 'metendo o pau' nos adoradores de santos, mas são tão idolatras quanto. Quantos fãs enlouquecidos não ficam horas e horas em filas para shows, vestindo camisetas de seus artistas favoritos, correndo atrás de autógrafos, enfrentando multidões para conseguir uma foto com seu ídolo gospel, pregando posters no quarto, gritando e arrancando os cabelos? Alguns artistas até sentem as dores do caminho tortuoso que estão escolhendo, mas preferem caminhar anestesiados pelo gozo dos aplausos e flashes.


"Nos dias de hoje, a celebridade vale mais que o dom que recebeu de Deus e o artista mais à sua exposição do que à sua arte"². Brilham como holofote, impedindo que a própria Luz de Cristo seja vista através de suas vidas. Pessoas totalmente dependentes de palco, microfones e flashes. E quando isso lhes for tirado (o que será inevitável), perderão sua própria identidade. Vivem de ilusão. "A fama passa, a música gospel passa e com ela sua concupiciência. Ou você coloca a Palavra de Deus no coração ou vai virar um(a) velho(a) surtado, depressivo e enfiado nas drogas. E isso vale para todo aquele que não resistiu e se entregou aos pés da fama. Que Deus tenha misericórdia de você que se transformou em camelô da fé ou cantante mercenário, e que apesar de usar o nome de Deus, de Deus não tem nada. Não podemos jamais esquecer que o nosso Deus não é aquele que dizemos: "Oh Senhor, como eu te amo! Como o Senhor é lindo! Eu te adoro...", mas é aquele a quem servimos. E não podemos servir a dois senhores. Ou servimos a Deus ou a glória dos homens. O que você deseja? A purpurina dos homens ou a glória de Deus?"³ Se optar pela glória de Deus, é momento de parar TUDO e começar do zero. Mas infelizmente, pouquíssimos terão força suficiente para lutar contra esse gigante acariciador de egos.


Este é o calcanhar de Aquiles de todo ser humano: o poder e a fama. Não foi exatamente neste ponto que a serpente tocou em Eva? O diabo sabia o que estava fazendo. "Disse a serpente à mulher: "Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal" Gênesis 3:4-5. E desejar ser tão famoso como Deus (mesmo que de forma inconsciente) gera um surto de poder, e poder é idolatria, seja qual for a sua forma. Poder é oposto de graça, pois na graça todos somos iguais, estamos no mesmo nível e não há acepção de pessoas.  A fama gera soberba, e "a soberba gera um problema oftalmológico existencial: o sujeito olha pra si mesmo e se enxerga maior que os outros e quando olha para os outros, os enxerga menor do que ele"(4)


Eu não tenho a fama que muitos artistas e líderes religiosos tem por aí (nem de perto!), mas reconheço que estou trilhando um caminho perigoso. Com o trabalho do blog 'Salve Meu Casamento', acabei me tornando uma pessoa mais conhecida (bem de leve). Não posso mentir, a sensação é ótima. E que atire a primeira pedra quem nunca sentiu o seu ego bater lá em cima ao escutar: "Nossa, que dom maravilhoso você tem! Você é uma pessoas realmente usada por Deus! Como eu te admiro! Sou sua fã!". Mas é nessa hora que grito em silêncio: "Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’". E esta é uma batalha que travo diariamente contra a minha carne: "Senhor, não permita que eu me coloque numa posição que não é minha. Toda a glória e honra seja dada a Ti". E por que todos os dias? Porque todo aquele que julga estar firme, precisa cuidar para que não caia, conforme 1 Coríntios 10:12. Se existe uma luz brilhando através da minha vida, é porque ela vem de uma fonte, e essa fonte tem nome: Jesus! É uma luta diária, pois é necessário que Ele cresça e que eu diminua.


"Quem canta sobre as coisas lá do céu não deve desviar
Quem faz da sua voz, a voz de Deus tem que sempre vigiar
Quem traz dentro de si o caminho a verdade e a vida não se vende
Abre mão de todo brilho e toda gloria deste mundo"


 https://www.youtube.com/watch?v=KL45R-VlvBU

 
Falo por amor e zelo ao Evangelho,
 
Dani Marques

¹ [bibliafreestyle.com.br] #19 - Cachê de músico cristão - Ariovaldo Junior (adaptado)
² João Alexandre
³Caio Fábio
(4)Neil Barreto