terça-feira, 25 de maio de 2010

Vergonha de ser crente


Quando eu era menino, minha mãe comprou uma camiseta para mim e para o meu irmão com um bordão muito divulgado pela igreja Renascer que dizia "Sou careta, drogas bah!" e usávamos essas camisetas com certa frequência. Nessa época eu tinha uns 12, 13 anos de idade e tínhamos o hábito de passar as férias de janeiro no apartamento da praia que meu avô possuia.

Tínhamos amizades com alguns caiçaras, como o filho da vendinha da esquina e os dois irmãos que trabalhavam numa banca de jornais do outro lado da rua. E é sobre esses últimos que eu gostaria de falar.

O mais velho era um sujeito calmo, quietão e muito solícito. Tinha uns 15 anos e era muito responsável, cuidando para que nada desse errado nas vendas da banca. O mais novo era mais farrista e falador. Sem papas na língua, falava pelos cotovelos e só trabalhava quando realmente era necessário. Não me lembro do nome deles...

Um dia, trajado com a minha super-camiseta, fomos meu irmão e eu jogar conversa fora com os nossos amigos da banca. Olhando a camiseta, o irmão mais novo olhou e disse: "Que camiseta é essa?". "É da campanha contra as drogas da Renascer". "Ué? Você é crente?". "Sim, nós somos". "Hahahaha, vocês são crentes!!"

Nunca tinha sido ridicularizado pela minha religião e me incomodei muito com aquilo. Aí hoje eu percebo o porquê. Era a MINHA religião, o MEU apanhado de doutrinhas, a MINHA forma de ser, o MEU olhar retalhador e egoísta contra aqueles que estavam fora daquilo que EU cria.

Realmente, a vergonha que senti me retraiu ainda mais, pois sempre fui tímido. Mas essa retaliação me fez ter vergonha de ser crente naquele momento. Sim, porque eu era apenas crente. Crente na minha vida provinciana dentro da igreja. Crente que eu era feliz no meu casulo e ninguém podia quebrá-lo. Crente nas Leis que me cerceavam e me moldavam. Crente que crê que só crente crê. Enfim, eu era um crentino.

Graças a Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo que me livrou do eu-crente e fez com que eu andasse em novidade de vida, crendo que até para crer eu dependo único e exclusivamente do dom que o próprio Deus dispende sobre mim. Por Ele vivemos, e nos movemos, e existimos!

Claro que o eu-crente tenta me assombrar nos escaninhos da minha mente, são muitos anos pensando e agindo como um crentino, mas vou liberando o peso da carga conforme me aproximo de Cristo.

Feliz é aquele que se livrou de ser crente...