No meio evangélico, a figura do pastor em uma igreja chega a ser mítica. Se é uma igreja com milhares de membros então, nem se fala. Chega a ser intocável. Se faltam ídolos de madeira, sobram ídolos de carne. E não é só isso, a sua palavra é lei! Com os seus poderes divínos, este deus tem o poder de decisão sobre a vida de seus comandados. Sim, vida. Pessoal, profissional, se casa, se separa, se compra um carro, ou se o entrega para o seu próprio pastor. Claro, isso é um ato de "fé".
Mas existem outros tipos de pastor. Tem aquele que se preocupa mesmo com os seus membros... se a frequência em seus templos está em dia ou se eles andam se "desviando". São aqueles que medem a fé de suas ovelhas pelo muito "estar" e muito participar. Ah, como isso deixa o pastor feliz... E se o número de ovelhas aumentar em seu rebanho, vem aquele orgulho em apresentar um belo relatório com gráficos e planilhas mostrando o crescimento nos últimos 3 anos. É de se orgulhar!
E tem aquele pastor que é dedicado a pregar a palavra... desde que seja no púlpito. Desde que o auditório esteja repleto. Desde que seja para pregar para crentes, porque pregar para incrédulos é muita "opressão". Orar em locais públicos é um acinte! "Mas o meu gabinete está disponível", o local de poder do pastor.
Em minha vida, conheci muitos pastores, sim, pastores profissionais, que conduziam uma comunidade inteira sozinhos, resolvendo diversos problemas da estrutura e da membresia. Outros nem tanto. Mas em minha vida mesmo conto nos dedos quem pastoreou em minha vida. E nesse momento coloco o que, para mim, é pastor.
Pastor para mim é aquele cara que te pergunta se você está bem olhando nos seus olhos com interesse genuíno. Pastor para mim é aquele cara te aconselha sem ser incisivo, não o forçando a nada. Pastor para mim é aquele cara que te dá umas broncas e levanta possíveis consequências do seu ato, sem arrogância, com um amor tão claro, que você compreende em suas palavras as palavras de Cristo. Pastor para mim é aquele cara que te conduz ao crescimento espiritual e pessoal. Pastor para mim é aquele cara que te convida para um café e nesse café conversa sobre tudo, menos sobre igreja. Pastor para mim é aquele cara interessado em pessoas, não em coisas. Pastor é aquele cara que pensa no indivíduo e não na multidão.
Agora, você pode estar se perguntando se eu conheço alguém assim. Sim, conheço. E, pasmém, ele não é pastor! Chamo-o pelo nome. Ele não tem essa nomenclatura e nunca buscou tê-la. Ele simplesmente é, por dom, vocação. Conheço a sua vida, a sua família, conheço a sua casa. Bem humano, normal. Sei que muitos dos que são pastores com esse título também são pastores de verdade, mas arrisco dizer que, pelo menos no Brasil, são poucos.
Portanto, o desafio é reconhecer um pastor como um dom e não como um profissional, um ser superior, um mágico, ou sei lá o que... pois ele não tem nada demais além de um dom dado por Deus, para o crescimento do corpo no qual ele, o pastor, faz parte.
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