Num ônibus de São Paulo, numa manhã chuvosa, um homem aparentemente bêbado e mal-cheiroso entra no coletivo e senta-se ao lado de uma senhora, na parte da frente, próximo ao motorista. Como toda língua alcoolizada, a dele não se conteve em se manter calado e começou a discursar sobre a vida, a morte e as mazelas do dia a dia. Ninguém deu muita bola ao homem até que ele resolveu falar que de nada na vida valia a pena... e uma outra senhora no banco do outro lado do corredor retruca:
– Não é verdade, Jesus está conosco para nos fortalecer e nos salvar!
– Salvar? Salvar do quê?? Sabia que existe mais mortos do que vivos nesse mundo? E o que Jesus fez?
A partir daí o que se sucedeu foi um desafio atrás do outro, onde o bêbado levantava diversas questões sobre bíblia, pastores, vida pós-morte, espíritos, Deus, Jesus, Davi, Golias e tudo o mais que ele pudesse sustentar sobre o que para ele era apenas ILUSÃO.
Aquela senhora ficou totalmente sem rumo com tantas indagações e foi emundando conforme as perguntas do bêbado ficavam sem respostas.
Alguns no ônibus diziam entre si que o homem era louco, outros diziam que podia ser louco, mas tinha razão em muita coisa. Eu só observava no que isso ia dar e o resultado foi: vitória do bêbado por nocaute!
Não sei o que sustentava a fé daquela senhora, mas era nítida a sua falta de clareza naquilo que ela cria. Não que alguém espera que se ache um vencedor numa discussão com um homem embriagado, mas a disposição de se iniciar um diálogo falando de Jesus espera-se ao menos uma afirmação pessoal do que Jesus é em sua vida, pois se Ele veio para salvar, veio salvar do quê? Para quê? Preciso disso?
Falta àqueles que se dizem cristãos ter uma posição pelo menos parecida com a do cego de nascença curado por Jesus e interrogado pelos judeus:
– Uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego, agora vejo.
Uma coisa eu sei, é que eu era um religioso cheio de discursos prontos, medroso, que temia a vida e as suas reviravoltas. Eu adorava manter a minha rotina de pecados secretos, achando que os meus rituais semanais me livrariam do inferno.
Só que quando percebi que Cristo veio a mim para me libertar de tudo o que eu queria controlar, de que a vida com Cristo é um chamado à liberdade, posso viver como um caminhante da vida, um hebreu e não como um ébrio ou um prisioneiro seja lá do que for, bebidas, religião, sexo... O chamado é para a liberdade, somos livres até da morte que foi vencida em Cristo, que nos ama de forma incondicional e radical!
Realmente, não fui lá na frente do ônibus abrir esse diálogo com aquele homem, na hora não tive esse discernimento. Desci do ônibus e o homem continuava a verbociferar não sei mais com quem, pois aquela mulher já olhava a chuva do lado de fora ignorando-o.
"Senhor, que os seus servos digam aquilo que brota no coração, crendo que o Teu Espírito lhes ensinará o que falar no momento propício. Se não tocar a vida do bêbado, que seja para testemunhar àqueles que estão ao redor. A começar em mim... Amém".
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