Durante as minhas férias estava lendo, por curiosidade, um jornalzinho dessas igrejas defensoras da teologia da prosperidade. Uma daquelas que pagam milhões por um espaço no horário nobre do canal aberto, sabe? Cheguei a ler uns cinco depoimentos dos fieis, foi o que consegui. Não suportei continuar. Senti ansia de vômito e a sensação que meus órgãos estavam derretendo. Os testemunhos eram bem parecidos com: "Depois que passei a frequentar assiduamente os cultos da igreja "x", minha vida mudou! Hoje tenho minha casa própria!", "Comecei a pagar o carnê mensamente e o Senhor me abençoou. Consegui comprar um carro 0Km!" ou "Participei da campanha do lenço ungido, dei tantas voltas na fogueira Santa e minha vida se transformou. Hoje tenho um emprego e meu marido foi promovido na empresa!". Fiquei me perguntando: "Meu Deus, que Bíblia é essa que essa gente lê (se é que lêem)? Ou melhor, que Jesus é esse que eles pregam?" Ok, se alguém se agrada desse tipo de doutrina, eu respeito. Mas colocar o nome de Jesus no meio, aí não dá! Por que não dizer que estão falando em nome de qualquer outro Deus? Sei lá, o deus Mamom, por exemplo? O Deus que eu conheço, aquele revelado em Jesus, faria um chicote de cordas e sairia chicoteando esse bando de safados disfarçados de pastores, missionários e apóstolos. Gostaria de dizer à você, que frequenta uma dessas igrejas da teologia "toma lá, dá cá", é hora de acordar pra vida meu filho! Tu tá sendo enganado rapaz!!!
O evangelho não está sendo proclamado, compreendido e vivido por essas igrejas. Vocês estão vivendo na casa do temor e não do amor, como diria o bom e velho Brennan Manning. Embora a Bíblia seja claríssima quando diz que foi de Deus a iniciativa da obra da salvação, o que está sendo pregado por esses bandidos é que nossa espiritualidade deve começar no EU, e não em Deus. É o famoso "Deus ama os bons meninos". A grande ênfase é no que 'eu estou fazendo' em vez de no que 'Deus está fazendo', aliás, no que ele já fez! O pior, é que mais cedo ou mais tarde esse povo todo que está sendo enganado será confrontado com a dolorosa verdade da sua insuficiência. Aí vem a decepção, e é neste momento que muitos abandonam a fé. Queridos, somos incapazes de acrescentar uma polegada sequer na nossa espiritualidade através do bom comportamento. A nossa luta pelos méritos de estrelas douradas, a nossa afobação por consertar a nós mesmos, é uma negação aberta ao evangelho da graça!
Fico me perguntando: que Boa Nova é essa que vocês vivem? Se Deus é um juiz que retribui os bons e pune os desobedientes, isso não é Boa Nova coisíssima nenhuma, é uma Péssima Antiga! Será que a morte na Cruz veio nos revelar essa terrível mensagem? De que Deus ama os bons meninos e pune os maus? A justiça de Deus, que tanto se fala dentros das igrejas, é que Ele nos tornou justos através do perdão de cada um dos nossos pecados, a famosa justificação pela graça mediante a fé! Não é por qualquer mérito ou atitude nossa que tivemos nosso relacionamento restaurado com Deus, mas unicamente pelo seu grande amor e bondade. A decisão foi Dele! Essa é a Boa Nova! Mas isso é incrível e bom de mais para aceitar não é mesmo? É mais fácil pagar o carne do Gideão (concorrendo a prêmio pela loteria Federal), vender o carro e entregar o dinheiro na igreja, virar patrocinador com direito a brinde mensal, deixar a bolsa no altar, frequentar todas as campanhas de prosperidade, comprar o vaso de alabastro por R$ 200,00, dar sete voltas na Fogueira Santa de Israel... Em outras palavras, é mais fácil se sacrificar e negar o sacrifício que já foi feito na Cruz, não é mesmo?
Pensamos que Deus abençoa somente se formos fieis no que a igreja impõe, mas Jesus nunca afirmou que o Reino dos Céus é uma subdivisão para os certinhos, frequentadores de igreja e pagadores do dízimo e carnês. A igreja verdadeira não é um museu para santos, mas um hospital para doentes! A Boa Nova significa que podemos parar de mentir para nós mesmos. É ela que nos salva da necessidade do auto-engano, de que eu preciso fazer algo para receber o amor de Deus ou ser abençoado. Um santo não é alguém bom, mas alguém que experimenta a bondade de Deus, já diria Thomas Merton. A salvação nos foi dada gratuitamente, de presente! Não é recompensa da nossa fidelidade. E os televangelistas, superastros carismáticos e líderes religiosos das igrejas do 'toma lá, da cá' não querem que você saiba disso, pois a Boa Nova de Cristo desfaz a dependência na igreja e a coloca em Jesus, e com isso, eles perdem. Perdem fama, poder e dinheiro.
A mensagem de Jesus grita que somos todos mendigos igualmente privilegiados. Não há coisa alguma que qualquer um de nós pode fazer para herdar o Reino, apenas é fé pura de uma criancinha. "Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus" Efésios 2:8. "Vocês, que procuram ser justificados pela lei, separaram-se de Cristo; caíram da graça" Gálatas 5:4. Meus amigos, se isso não lhes parece Boa Nova, então nunca experimentaram o evangelho da graça. Você já é aceito, simplesmente aceite este fato. O verdadeiro cristão rejeita por completo a ideia de que Deus pega as pessoas de surpresa ao menor sinal de fraqueza ou falha no dízimo. Quando enxergamos Deus dessa forma distorcida, sentímo-nos impelidos a nos envolver em alguma espécie de trabalho para aplacá-lo. E quando pessoas esmagadas por esse conceito falham - o que inevitavelmente acontece - no geral ficam a espera de uma punição. Por isso perseveram em práticas religiosas ao mesmo tempo em que lutam para manter uma imagem oca de um eu perfeito.
Em essência, há uma única coisa que Deus pede de nós: aceite o que eu já fiz por você! Temos paz quando o Deus da graça é tudo o que buscamos. Se o foco muda, nos perdemos. Todo o restante, mais conhecido como boas obras, virá como consequência da fé genuína. O Reino de Deus pertence a pessoas que não estão fazendo gênero ou tentando impressionar, esperando estrelas na testa pelo seu bom comportamento. "Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele" Marcos 10:15. A criança é símbolo dos excluídos da época, dos marginalizados, daqueles que nem ao menos eram contados, e que com frequência eram chamados por Jesus de "últimos" ou "pequeninos". O reino de Deus é daqueles que nunca fizeram nada para merecê-lo, apenas aceitaram-no através fé pura, como um presente! A graça de Deus recai sobre essas pessoas porque são criaturas insignificantes, não por causa de suas qualidades. "Vim chamar os pecadores, não justos!"
A salvação que Jesus trouxe não pode ser conquistada com esforço. Não existe a possibilidade de barganha com Deus: "Eu fiz isso e agora você me faz aquilo". Jesus destroi por completo a noção de que nossas obras merecem qualquer pagamento em troca. Os cristãos estão tentando consquistar o favor de Deus mergulhando no maior número de atividades espirituais, multiplicando altares e sacrifícios. Sem contar os milhares de "ungidos" insensatos que cometem a loucura de determinar que Deus faça alguma coisa e ainda esperar que ele obedeça. Isso é o cúmulo da ignorância! Deus não é uma marionete movida à jejuns, campanhas, dízimos e ofertas. Acordem!
Talvez a grande dicotomia dentro da comunidade cristã da atualidade não seja entre conservadores e liberais, entre criacionistas ou evolucionistas, mas entre os despertos e os adormecidos. O cristão desperto sabe que é maltrapilho e que não há nada que possa fazer para alcançar o amor de Deus, pois a decisão de amar já foi tomada por Deus. "Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados." 1 João 4:10. Se você aprendeu a pensar no Pai como juiz, disciplinador, espião ou como aquele que castiga, conheceu o Deus errado. "No amor não há medo; pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor." Deus não é nosso inimigo, não está decidido a nos testar, tentar ou provocar. Ele não dá preferência e não promove o sofrimento ou a dor. Não!
O evangelho declara muito claramente que não importa quão dedicados e devotos sejamos, não somos capazes de salvar a nós mesmos. O que Jesus fez foi suficiente. Você só precisa crer. A medida que nos mantemos santos pelos nossos próprios esforços, deixamos que prostitutas e ladrões entrem primeiro no reino, porque eles já sabem que não podem salvar a si mesmos. Quando reconhecemos que somos todos miseráveis à porta da misericórdia de Deus, aí então Ele pode fazer algo belo de nós. Como é dificíl ser honesto e renunciar à pretensão de que minhas orações, meu discernimento espiritual, meus dízimos e ofertas, meu sucesso ministerial fizeram-me alcançar o favor de Deus. Isso é balela! Sou amável simplesmente porque Deus me ama, simples assim. O amor humano será sempre uma sombra débil do amor de Deus. A lógica humana está baseada na experiência humana, e Deus não se encaixa nesse modelo. Ele olha nos nossos olhos e diz: "Eu não quero seu dinheiro e tampouco suas boas obras. Eu quero seu coração!"
A confiança que depende da resposta que obtém de Deus não é de fato confiança. As igrejas da teologia da prosperidade ensinam seus disípulos que é necessários provas e respostas para saber se o "aluno de Deus" está se saindo bem. E quando essas repostas não chegam, o discípulo fica frustrado e começa a desconfiar que seu relacionamento com Jesus esfriou ou nunca existiu. Mas eu quero dizer pra você hoje: "Mais bem-aventurados os que não viram e creram!" Jo 20:29. Oro a Deus para que ao ler essa mensagem, escamas caiam dos seus olhos e seu entendimento seja aberto. Ajude a divulgar esse texto para o máximo de pessoas que puder. Se for possível, imprima cópias e distribua ao final dos cultos dessas igrejas do deus Mamom. Se ao menos uma pessoa entender a graça, terá valido a pena!
Dani Marques
Texto baseado no livro "O Evangelho Maltrapilho - de Brennan Menning". Muitos trechos desse artigo foram retirados deste livro.
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