quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

CRISTIANISMO SELF-SERVICE


Observando o cenário religioso dos últimos anos, não fica difícil notar que o cristianismo transformou-se num grande restaurante self service, onde o cristão, diante de uma diversidade infinita de doutrinas e denominações, preenche o seu prato de vazio espiritual com os "alimentos" que mais agradam aos seus olhos e paladar, e além disso, faz questão de observar o prato alheio e dizer: “Como o irmão foi capaz de comer ovo frito quando temos a nossa disposição frango assado com batatas?” 

Bom, vejamos o que o Cristianismo Self Service tem a nos oferecer:

Louvor 
1 – Músicas agitadas, palmas, pulos, trenzinhos e serpentina;
2 – Hinos tradicionais, tocados apenas por instrumentos clássicos, onde toda a comunidade entoa o cântico em posição de lord inglês;
3 – Mantra gospel : aquele que repete trinta vezes o mesmo refrão até que toda a congregação entre em transe e perca completamente o controle dos sentidos;
4 – Louvores fortes e arretados, daqueles que pisam na cabeça da serpente e abrem portas que ninguém pode fechar! Oh Glória!
5 – Louvor profissional: aquele em que participam apenas integrantes formados na área, onde os cânticos levam horas e horas para serem ensaiados, para que na hora do louvor, todos os músicos saibam o exato momento de entrar, respirar e parar.

Culto 
1 – Liturgia completa: prelúdio, adoração, confissão, ofertas, apresentação de visitantes, louvor, palavra, apelo, avisos, bênção e poslúdio;
2 – Liturgia light : louvor, palavra e avisos no final;
3 – Sem liturgia: o Espírito é quem move.  Ninguém sabe o que vai acontecer. 

Palavra 
1 – Aquela que acaricia o ego dos bons cristãos, deixando-os em paz por seis dias inteiros, onde o único desafio lançado é o de retornar ao mesmo bat-local e no mesmo bat-horário;
2 – Aquela repleta de gritos e pulos, inclusive com frases completamente indecifráveis, onde o pastor (com a boca grudada  no microfone) impele a congregação a concordar com seus gritos guturais:  “Posso ouvir um amém? Posso ouvir um AMÉMMMM?”
3 – Palavra mansa, tranquila e quase sempre lida, onde o tecladista tem papel importantíssimo no final: amolecer os corações dos fieis para o momento do apelo;
4 – Palavra toma lá da cá: só recebe se fizer, só ganha se entregar e só é salvo aquele que se sacrificar! 

Reteté 
1 - Sem reteté;
2 - Pouco reteté;
3 - Reteté do começo ao fim. 

Orações 
1 – Apenas nos momentos preestabelecidos pela liturgia;
2 – Orações gritadas, pois estas sim surtem efeitos;
3 – Orações em todo tempo:  com o irmão da frente, com o irmão do lado, com o irmão de trás e, ao final, um grande circulo de oração com toda a congregação;
4 – Orações em línguas, onde o pastor solta a primeira frase no microfone, frase esta que se assemelha a um botão de acionamento explosivo de línguas na congregação. Daí pra frente é só no sapatinho!
5 - Oração decorada, mais conhecida como reza. 

Dízimos e ofertas 
1 – Igrejas que nunca falam em dinheiro (extinta);
2 – Igrejas que só falam em dinheiro;
3 – Igrejas que falam apenas nos momentos preestabelecidos pela liturgia;
4 – Aquelas que falam apenas quando surge uma necessidade financeira especial: uma família necessitada, um irmão adoentado ou doações para creches/ asilos/hospitais (em extinção). 

Templo 
1 - Catedrais suntuosas, com vitrais coloridos, bancos de madeira maciça e exposições de arte por todos os lados;
2 - Prédio comercial, com direito a uniforme para funcionários;
3 - Templo tradicional, decoração clean e cruz ao fundo;
4 - Garagem alugada.


Escolha suas opções, monte o seu prato e bom apetite! ;)



Este texto foi apenas uma brincadeira em cima de uma realidade que me entristece profundamente, uma realidade que me impele a clamar: Maranata, vem Senhor Jesus! Estou farta, cansada, angustiada. Cerimônias constantinianas repleta de rituais que em nada se assemelham ao Evangelho puro e simples de Cristo Jesus. É triste dizer, mas o próprio cristianismo em si já está muito longe daquilo que os primeiros cristãos viveram e ensinaram.


Diante de toda esta "meleca", optei por viver e ensinar o Evangelho da forma mais leve, pura e simples possível.  Meu referencial é Jesus Cristo e minha vida é um culto diário, não preciso de um dia específico para isso. Ainda congrego, claro! Se o Espírito Santo habita em mim, não poderia ser diferente. Ele me move a estar ao lado daqueles que compartilham desta mesma fé, com o propósito de edificarmos uns aos outros e levarmos a Luz àqueles que ainda vivem na escuridão.  Mas o que nos une não é doutrina e tampouco denominação, mas o próprio Espírito que habita em nós, que é o mesmo em todos. E onde nos reunimos? Até debaixo de um pé de jatobá se for preciso! O próprio Jesus me ensinou que quando dois ou três estivessem reunidos em Seu nome,  ali ele estaria.

Quando perguntaram a Jesus o local onde poderiam encontrá-lo, ele não respondeu: "Em Cafarnaum, às quartas e em Jerusalém aos domingos". Sim, Ele ensinou e congregou nestes lugares, mas nunca esteve preso à eles: "Jesus respondeu: As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça". Lucas 9:58. O único desafio que Cristo me faz é: "Vem e segue-me!". E quando obedeço a este chamado, fico impossibilitada de me prender a doutrinas e denominações, posso até fazer parte de uma, mas nada me impede de estar em outros lugares ou com outros irmãos, pois "O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito". João 3:8


Viver o amor em toda e qualquer circunstância, fazendo das minhas mãos e pés extensões do próprio Deus. Permitir que o meu “eu” seja quebrado, esmagado, amassado e restaurado pelo grande Oleiro que é Jesus, um dia de cada vez. É isso que anseio e busco. E temos um Pai que faz isso com tanto amor e perfeição!


Quero cada vez mais distância do Evangelho Self Service. Desejo apenas a simplicidade de Jesus, e nela, não sou eu quem escolhe o prato, apenas sento e desfruto daquilo que o Senhor tem a me oferecer. Sou servida por Ele e com o que recebo, sirvo aos que passam pela minha vida. Estando em Cristo, minha fome e sede são saciadas por completo.  Não sinto falta alguma de liturgia, local específico e nem de religião, pois o próprio Jesus me ensinou que a religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo, conforme Tiago 1:27.

Enquanto perdemos tempo com "engalfinhamentos" religiosos, crianças morrem de fome todos os dias... Maranata, vem Senhor Jesus!



Dani Marques

Um comentário:

  1. comecei lendo seu texto pensando: "Ela vai falar mal da minha igreja".
    Mais ao final percebi que não se trata de aquela ou essa igreja, e sim de Jesus, obvio que precisamos congregar, mais acima disso tem que estar Deus.
    Hoje em dia somos bombardeados com disputas entre os cristãos, quando na verdade deveríamos nos unir independentemente de placas de igreja.
    Esse texto me tocou muito, me fez afirmar com certeza meu posicionamento pessoal com relação as disputas religiosas.

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