segunda-feira, 19 de julho de 2010

Qual é o meu lugar no texto



Por Marcos Botelho

Passamos tanto tempo aprendendo como podemos nos aprofundar no texto bíblico, estudamos as línguas originais, grego e hebraico, aprendemos a fazer exegese, compramos livros de chaves bíblicas, interlineares, lexos, analíticos e compêndios de teologia sistematizada.

Isso é muito importante, mas tão importante quanto, é sabermos voltar para a superfície. Voltar para o aqui e agora com o texto, com o que aprendemos na essência da mensagem.

E se errarmos nesse caminho de volta, não adiantou nada o quão profundo formos na revelação de Deus, se tornará inútil se não conseguirmos trazer a tona o sentido do texto para o dia de hoje, para o nosso coração.

Uma das coisas que já fazemos automaticamente e, por isso erramos muitas vezes, é o paralelo nosso com os personagens do texto.

Sempre nos colocamos em uns personagens bíblicos sem pensar que podemos ser o outro, deixando de entender a mensagem de Deus para a gente.

Costumo me colocar sempre no lugar dos discípulos de Jesus, mas tenho percebido que me aproximo do mestre muito mais como um fariseu ou um mestre da lei.

Tenho visto que o fato de ter estudado teologia, de ser de igreja desde criança, me aproximo da religião, das pregações e até da bíblia como uma pessoa que conhece do assunto, como alguém que sabe o que quer ouvir e, isso tem muito mais paralelo com os fariseus do que com os discípulos ou publicanos.

Estou começando a reler os evangelhos com uma nova ótica, onde eu sempre apareço no texto no lugar dos fariseus.

O texto é o mesmo, mas é tudo novo para mim. Não é o mesmo texto que tenho lido desde criança, é algo novo. Não tenho conhecido um outro Jesus, mas tenho me deparado com um outro Marcos Botelho.

Em cada interferência arrogante dos religiosos vejo uma parte de mim, cada palavra mais ríspida de Jesus aos fariseus, eu sinto diretamente para mim, essa visão faz cada passo das minhas articulações metodológicas e religiosas armarem para colocar o Jesus do texto em um só lugar, na cruz.

Tão importante quanto entender o texto é saber qual o nosso lugar no texto, isso vai trazer uma nova revelação da palavra, quem sabe você vai se surpreender gritando no fundo do seu eu: crucifica-o, crucifica-o, crucifica-o!

(Texto extraído do blog de Marcos Botelho)

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